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Mercado histórico de Aleppo é sacudido no coração de combates da Síria

Agência France-Presse
postado em 01/10/2012 18:30
Síria - Violentos combates entre soldados e rebeldes sacudiram nesta segunda-feira (1;/10) o mercado de Aleppo, patrimônio histórico da Unesco na segunda maior cidade da Síria, enquanto ataques aéreos tiraram a vida de crianças no noroeste do país. Em Nova York, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu que o regime sírio "tenha compaixão com seu próprio povo" e alertou solenemente Damasco para as consequências da utilização de seu arsenal de armas químicas.

"A utilização destas armas será um crime escandaloso, com consequências nefastas", advertiu, lembrando uma "responsabilidade fundamental" do governo sírio. O ministro sírio das Relações Exteriores, Walid Mouallem, afirmou na tribuna das Nações Unidas que Damasco "ainda acredita em uma solução política", acusando principalmente os Estados Unidos e a França de apoiarem o terrorismo na Síria.

[SAIBAMAIS]Em Aleppo, segunda maior cidade do país e região crucial para o conflito que já dura mais de 18 meses, violentos combates foram retomados à noite nas imediações do mercado histórico, que já havia sido duramente afetado durante o final de semana. Uma fonte militar afirmou que os rebeldes "tentam tomar a mesquita dos Omíadas", localizada não muito distante do mercado. O chefe da poderosa brigada rebelde de Al-Tawhid, Abdel Kader Saleh, afirmou que "o Exército transformou a mesquita dos Omíadas em quartel".

Regime e rebeldes se acusaram mutuamente de serem os causadores dos danos causados ao mercado. Classificadas pela Unesco em 1986, juntamente com a Cidade Velha de Aleppo, suas cerca de 1.550 lojas formam há séculos um dos centros nevrálgicos do comércio no Oriente Médio. Cinco dos quarenta setores do mercado, como o de ouro ou o de túnicas, ficaram totalmente destruídos, segundo testemunhas. Ainda em Aleppo, combates também eclodiram em outros locais. O prédio abrigando o governo local foi alvo de um tiro, "provocando pânico entre os funcionários", segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

A violência deixou 21 mortos em Aleppo nesta segunda, e 156 no total, incluindo 84 civis em todo o país, de acordo com o OSDH.

"Maldito seja Bashar"

Em Idleb, na província vizinha de Aleppo (noroeste), pelo menos 21 civis, sendo oito crianças, foram mortos em um ataque aéreo efetuado pelas forças do regime de Bashar al-Assad na localidade de Salqine, segundo o OSDH e militantes no local. Um vídeo divulgado por ativistas mostra corpos carbonizados e desmembrados. "Meu Deus, meu filho morreu", chora uma pessoa diante de um veículo cheio de corpos.

A televisão estatal síria indicou que as forças do regime "mataram a maior parte dos terroristas que atacaram a cidade de Salqine", mencionando "terroristas da Al-Qaeda e não-sírios". Mortes foram registradas em diversas regiões do país, nas posições defendidas pelos rebeldes como Deraa, berço da contestação, onde pelo menos cinco pessoas, incluindo uma mulher, morreram em um bombardeio do Exército, segundo o OSDH.

"Maldito seja Assad, você, seus soldados e sua família. Nós nos vingaremos", diz um homem em um vídeo. Em outro episódio, pelo menos 18 soldados sírios foram mortos e outros 30 ficaram feridos em uma emboscada rebelde contra um comboio em uma estrada de Homs, no centro do país, de acordo com o OSDH. A rebelião afirmou ter se apoderado de mísseis antiaéreos de um arsenal do Exército situado no setor de Ghouta, na província de Damasco.

O conflito deixou mais de 30.000 mortos desde o início do conflito em março de 2011, segundo o OSDH.

Uma "invenção" dos Estados Unidos

Antes de seu discurso na ONU, o chefe da diplomacia síria acusou os Estados Unidos de tentarem repetir o plano que levou à derrubada de Saddam Hussein no Iraque em 2003, usando como pretexto a presença de armas químicas na Síria, em entrevista concedida ao canal árabe Al-Mayadeen.

"É uma invenção deles para lançar uma campanha contra a Síria, como fizeram no Iraque", declarou. Na ocasião, os Estados Unidos usaram o argumento de que Bagdá possuía armas de destruição em massa utilizado para justificar a invasão do Iraque, em março de 2003, mas este logo foi derrubado. Mouallem se mostrou evasivo a respeito da posse desse arsenal pelo regime, dois meses depois de Damasco ter reconhecido pela primeira vez que tinha armas químicas em seu poder e de ter ameaçado utilizá-las em caso de intervenção militar ocidental, mas não contra a sua população.

Na semana passada, o secretário americano de Defesa, Leon Panetta, havia afirmado que Damasco tinha deslocado armas químicas para um local mais seguro. A Turquia estimou nesta segunda-feira em cerca de 100.000 o número de sírios refugiados em seu território, e pediu ajuda internacional para continuar a recebê-los. No total, 93.576 refugiados estão alojados em 13 campos espalhados pelo sudeste da Turquia, na fronteira com a Síria, segundo Ancara.

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