Agência France-Presse
postado em 03/10/2012 13:06
Cidade do Vaticano - A polícia encontrou quase "1.000 documentos de interesse" na residência do ex-mordomo do Papa Bento XVI, Paolo Gabriele, afirmou nesta quarta-feira (3/10) um policial durante o julgamento do ex-funcionário da Santa Sé, acusado de ter roubado documentos confidenciais.O veredicto do julgamento de Gabrielle, acusado de ter roubado os documentos que revelaram a tensão na cúpula da Igreja, será anunciado no sábado, informou o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi. Nesta quarta-feira, os juízes interrogaram policiais do Vaticano. "Há quase 1.000 documentos de interesse, incluindo fotocópias e originais e alguns documentos com a assinatura do Santo Padre", afirmou Silvano Carli, um dos quatro policiais interrogados, ao falar sobre as descobertas da força de segurança no momento da detenção de Gabriele, em maio.
As testemunhas afirmaram que havia "centenas de milhares de documentos" na casa do mordomo, indicando que os referentes ao Papa estavam "habilmente dissimulados" entre os papéis espalhados. "Há dezenas e dezenas de documentos sobre o Santo Padre, a Secretaria de Estado e outras congregações, a vida estritamente privada e familiar do Santo Padre", disse Carli.
Outra testemunha, Stefano De Santis, declarou que, entre os documentos considerados sem interesse para a investigação, havia elementos relacionados à morte de Roberto Calvi, conhecido como o "banqueiro de Deus", que foi encontrado enforcado em 1982 sob uma ponte de Londres. Outro oficial que participou na investigação, Luca Cintia, afirmou que Gabriele "foi tratado da melhor maneira possível". Na terça-feira, o Vaticano anunciou que investigaria as condições de detenção de Gabriele, que afirmou ter sido submetido a "pressões psicológicas" após a prisão, em 23 de maio.
[SAIBAMAIS]Segundo o ex-mordomo do Papa, ele foi detido durante 15 dias em uma cela na qual não podia sequer esticar o braço, iluminada as 24 horas do dia. Paolo Gabriele também afirmou na terça-feira que Bento XVI foi "manipulado" e declarou ser inocente da acusação de roubo dos documentos, mas disse que sente culpa por ter traído o pontífice. Durante a instrução do caso, Gabriele afirmou que queria combater "o mal e a corrupção" no Vaticano.
Gabriele, um dos poucos cidadãos laicos do menor Estado do mundo, poderá ser condenado a uma pena de até quatro anos de prisão. O julgamento é aberto à imprensa, fato inédito na história do Estado Pontifício. Mas a audiência pública estava estritamente controlada: apenas poucos jornalistas foram autorizados a entrar na sala do tribunal e só podiam informar sobre o processo na saída. Não podiam utilizar câmeras de fotografia, nem de vídeo.
Fiel servidor de Bento XVI, o mordomo preparava as roupas de cerimônia e servia as refeições do Papa. Nas fotos oficiais sempre aparecia ao lado do pontífice, inclusive ao lado do famoso papamóvel. Ele é acusado de ter roubado e copiado durante meses dezenas de documentos confidenciais do Papa e seus colaboradores. Depois, sob o pseudônimo "Maria", transmitia os documentos ao jornalista Gianluigi Nuzzi, que os usou em seu livro "Sua Santità", que revelou as rivalidades e a animosidade, especialmente contra o número dois do Vaticano, o cardeal Tarcisio Bertone.