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Oposição venezuelana faz as últimas apostas para derrotar Hugo Chávez

Agência France-Presse
postado em 03/10/2012 13:09
Caracas - A oposição venezuelana, unida e revitalizada, aposta tudo no próximo domingo (7/10) para vencer Hugo Chávez, com um líder, Henrique Capriles Radonski, que se livrou da velha guarda e buscou casa por casa o voto das classes populares, sustento político do presidente.

"Nunca a oposição teve um candidato melhor. Capriles fez uma campanha espetacular, de proximidade com as pessoas e mostrando força", assegura o presidente do instituto de pesquisas Datanálisis, Luis Vicente León. Da mesma forma que Chávez fez em sua primeira eleição, em 1998, este ex-governador do segundo estado mais importante do país (Miranda, norte) percorreu toda a Venezuela batendo nas portas dos bairros mais pobres e realizando caminhadas junto a multidões esperançosas por uma mudança.

Apesar de se manter atrás nas pesquisas em relação ao popular e poderoso Chávez - acusado pela oposição de utilizar os recursos públicos para fazer campanha - Capriles, de 40 anos, reduziu a brecha e poderá capitalizar o descontentamento acumulado em 14 anos de chavismo.

"Capriles tem essa capacidade de referir-se aos problemas concretos das pessoas, como educação e saúde. Sua mensagem é simples, mas propõe soluções e isso faz com que seja muito próximo ao cotidiano dos venezuelanos", assegura Teresa Albanes, presidente da comissão eleitoral da Mesa da Unidade Democrática (MUD), a coalizão que o apoia. Mas o mérito não é a apenas do jovem e enérgico aspirante. Segundo analistas, esta posição de forca é o resultado de um contínuo esforço da oposição para deixar para trás os erros cometidos no passado e renovar sua imagem para diferenciar-se dos velhos partidos, cujo desgaste abriu caminho para a eleição de Chávez em 1998.

Na MUD, criada em 2009, "estão conscientes de que existem candidatos dos velhos partidos que geram muito mal-estar", explicou a historiadora Margarita López Maya, em alusão à Ação Democrática (AD) e ao Copei, que se alternaram no poder durante 40 anos e agora integram este bloco. Capriles, do Partido Primeiro Justiça (social-cristão), faz parte de uma "liderança emergente, jovens que fizeram carreira política durante o chavismo", afirma López Maya. "Sua figura está muito legitimada porque trabalha com acordos assinados por mais de 30 partidos e foi, além disso, eleito nas primárias", recorda.

[SAIBAMAIS]Em 12 de fevereiro, a oposição venezuelana celebrou pela primeira vez eleições primárias para designar seu candidato presidencial, nas quais votaram três milhões de cidadãos (16% do padrão eleitoral) e Capriles obteve 62% dos votos, contra 29% de seu adversário direto, Pablo Pérez, do AD. O êxito se somou assim aos últimos gols marcados pela oposição frente ao oficialismo: o triunfo do "não" no referendo constitucional de 2007 proposto por Chávez, a vitória nos estados mais ricos e povoados nas regionais de 2008 e a obtenção do maior número de votos nas parlamentares de 2010.



Para trás ficaram uma série de desacertos reconhecidos pela própria oposição, como o apoio de vários setores ao golpe de Estado que tirou Chávez brevemente do poder em 2002 ou o boicote das eleições parlamentares de 2005, que resultou na maioria absoluta do oficialismo na Assembleia Nacional. "A oposição foi aprendendo e os grupos políticos compreenderam que não há outra maneira de recuperar uma verdadeira democracia no país a não ser indo unida às urnas", afirma Albanes.

Mas López Maya enfatiza um último ponto que fez de Capriles a candidatura mais sólida para enfrentar Chávez, reeleito comodamente em 2006 com 62% dos votos, frente aos 27% de Manuel Rosales. "O país começou a se cansar do discurso belicoso, ofensivo e polarizador do governo. Está cansado dos problemas de gestão, insegurança e desemprego. Isso se vê desde 2010, quando a oposição pôde entrar pela primeira vez nos bairros pobres, porque seus habitantes, tradicionalmente apegados ao chavismo, queriam ouvir os novos candidatos", explicou.

León não descarta qualquer cenário, mas afirma que, mesmo em caso de derrota, "é muito provável que Capriles mantenha a liderança da oposição e é possível que aconteçam novos eventos eleitorais antes do fim do novo mandato de seis anos", comenta, em alusão a uma eventual recaída de Chávez, que em 2011 teve um diagnóstico de câncer. "Para Capriles, a oportunidade (de ser presidente) continua perfeitamente viva, vença ou perca agora", conclui.

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