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Chávez quer permanecer no poder em uma Venezuela menos desigual

Agência France-Presse
postado em 05/10/2012 14:53



Caracas - O presidente Hugo Chávez pretende permanecer no poder em uma Venezuela menos desigual do que a encontrada em 1999, mas com ainda grandes desafios pela frente, como os altos níveis de violência ou a falta de habitação, apesar dos programas sociais financiados pelo petróleo. Tudo o que acontece na Venezuela tem a ver com o petróleo, e Chávez não é exceção: ele chegou ao poder quando o país estava mergulhado em uma grave crise provocada duas décadas antes por uma queda acentuada dos preços do petróleo, e completa 14 anos no cargo, em parte, porque as receitas do petróleo tem sido capazes de financiar seus projetos de ajuda aos pobres.

"Chávez deu à Venezuela uma coisa não quantificável: fez a sociedade a gravitar em torno do que era, é e será o grande problema na América Latina: a desigualdade", explica Alberto Barrera Tyszka, autor, junto com Cristina Marcano, da biografia "Hugo Chávez sem uniforme". "Ele dividiu de forma mais justa e democrática as receitas do petróleo e deu a consciência aos excluídos de seu papel na sociedade", acrescenta o jornalista e escritor, a poucos dias das eleições de 7 de outubro.

O presidente, de 58 anos, favorito na maioria das pesquisas para governar por mais seis anos, orgulha-se de ter levado a justiça social a um país governado por "um pequeno grupo rico" que "condenava a maioria à pobreza e à miséria". Vários indicadores confirmam o progresso social nos anos de governo socialista. De acordo com a Cepal, a pobreza, que em 1999 atingia 47% da população, caiu em 2010 para 27,8%, e a pobreza extrema passou de 21,7 para 10,7%. O analfabetismo também caiu, de 9,1 pata 4,9% em 2011, assim como a taxa de desemprego e a taxa de emprego informal.

Missões

Quando Chávez chegou ao poder, o barril de petróleo custava 17 dólares. Desde então aumentou até mais de 120 dólares, o que permitiu financiar milionários programas sociais de habitação, alimentação, saúde, aposentadoria e educação.

Para a historiadora Margarita López Maya, esses indicadores não significam que o chavismo aproveitou como devia "as magnitudes incomensuráveis do dinheiro do petróleo", ainda falta educação de qualidade e oportunidades de emprego.

"As medidas sociais, que tiveram impacto político, não acabam com os problemas estruturais", explica. Como exemplo, implementa o Mercal, programa de distribuição de alimentos, em um país com pouca produção agrícola, ou a Grande Missão de Habitação, o plano de construção de casas subsidiadas, lançada para cobrir o déficit de três milhões de casas depois de chuvas devastadoras.

"Qualquer especialista sabe que isso não resolve o problema da moradia em qualquer lugar do mundo. Casas são feitas às pressas. É uma missão que visa vencer as eleições", conclui. "O problema com revoluções é que cedo ou tarde, o principal objetivo é permanecer no poder", concorda Barrera.

Violência

Por outro lado, o maior problema dos venezuelanos, a violência, não deixou de crescer nos últimos anos. Segundo dados do governo, em 2011 o número de homicídios foi de 50 por cada 100.000 habitantes. Mas, segundo o Observatório Metropolitano de Segurança Cidadã de Caracas, neste ano foram registrados 19.000 homicídios, o que situaria a taxa em 67 casos por cada 100.000 habitantes.

Para López Maya este fenômeno, que torna a Venezuela um dos países mais violentos do mundo, se deve a vários fatores: a "decomposição social que agrava a polarização política", a impunidade, 90% dos criminosos não são punidos, o problema da droga e a falta de expectativas entre os jovens, em uma economia rentista que desencoraja o desenvolvimento produtivo.

De acordo com Barrera, a relação dos venezuelanos com a violência não é nova, mas tem crescido com Chávez, em parte devido ao "beligerante" discurso oficial.

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