Venezuela - Com fogos de artifício e uma chuva de papel picado, o candidato opositor Henrique Capriles Radonski surgiu no encerramento de sua campanha diante de uma multidão que sonha em "abrir a porta para o futuro" com um triunfo nas eleições de domingo na Venezuela. Já era fim de tarde de quinta-feira (4/10) em Barquisimeto (noroeste), quando o líder opositor, de 40 anos, começou a falar diante de milhares de seguidores que lotavam uma avenida nesta cidade, capital do estado Lara, governado por um de seus aliados.
Capriles saudou a multidão assim que subiu ao palanque, vestido com as cores da bandeira venezuelana. Entre os partidários estava William Castillo, um agricultor de 48 anos que votou pela reeleição do presidente Hugo Chávez em 2006, antes de sofrer uma "decepção" pela política de expropriações do governo, que alcançou uma empresa de insumos agrícolas e afetou o pomar que cultiva. "Vim dar meu apoio incondicional ao novo presidente Capriles", disse confiante.
A insegurança, o desemprego, o abuso de poder e a "oferta" de dinheiro a outros países, enumerou, são suas razões para ter mudado de opinião seis anos depois e defender a proposta de Capriles nas eleições de domingo. Contudo, alertou, "o mais importante é unir os venezuelanos, porque estamos como cães e gatos graças ao clima de divisão em que o presidente nos colocou".
Em mais de uma hora no palanque, provavelmente o discurso mais longo de seus três meses de campanha, Capriles se concentrou em tentar convencer os indecisos e chavistas a votar em seu projeto "progressista", enquanto mostrou sua face mais desafiadora ante Chávez, que reconheceu como um "grande adversário". "Quero dizer ao presidente Chávez: seu ciclo termina, eu agradeço infinitamente de coração pelo senhor ter me permitido ver claramente o rumo que temos que tomar, o rumo do amor e não do ódio", disse o candidato opositor, que raramente citou diretamente o presidente em seus atos anteriores.
"No domingo abriremos a porta ao futuro", acrescentou diante dos vivas do público, que às vezes o interrompiam com um dos slogans da campanha opositora: ";Se vê, se sente, Capriles presidente". Daisy Ocanto, uma professora aposentada o admirava: "Gosto de sua sinceridade e de seu grande amor a Deus, tem tanta paz e alegria", disse.
"Sei que não será o melhor presidente, mas queremos uma mudança e já basta de Chávez", disse Andy Sánchez, um estudante de 19 anos. Entre a multidão, um cartaz dizia "para os socialistas há um caminho", um pedido aos seguidores de Chávez para que se juntassem ao "ônibus do progresso" conduzido por Capriles. O lema de sua campanha "Há um caminho" se multiplicava em pulseiras, cartazes e camisas.
Também entoavam canções: Cada vez são milhares / e milhares e milhares / Cada vez são milhares / que estão com Capriles. Como em outras ocasiões, Capriles comparou sua campanha à "luta de Davi contra Golias", acusando Chávez de usar recursos públicos e os meios de comunicação estatais com fins eleitorais.
Os seguidores vestiam camisas e agitavam bandeiras dos diferentes partidos que apoiam Capriles, a aposta mais sólida da oposição para derrotar Chávez, depois de sua vitória nas inéditas primárias em fevereiro. A concentração em Barquisimeto encerrou um dia que também contou com atos nos estados de Apure e Cojedes (oeste), colocando um ponto final a uma frenética campanha que levou Capriles a mais de 300 cidades e que ele mesmo considerou "admirável" e "heróica".
"Nunca pensei que ia despertar nosso povo da meneira que despertamos", disse na quinta-feira. O líder opositor chega às eleições abaixo de Chávez na maioria das pesquisas, apesar de, nas últimas semanas, ter conseguido reduzir a brecha que o separa do presidente.