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Violência aumenta na Síria, Ancara propõe vice no lugar de Assad

Agência France-Presse
postado em 07/10/2012 13:22
Damasco - Combates de extrema violência eram travados neste domingo (7/10) em Aleppo entre as forças do regime e os rebeldes, que resistem há mais de dois meses na disputa pelo controle desta cidade estratégica no conflito sírio.

Enquanto isso, na Turquia, o chefe da diplomacia turca, Ahmet Davutoglu, afirmou que o vice-presidente, Farouk al-Chareh, "é um homem de razão" e poderia substituir Bashar al-Assad à frente de um governo de transição na Síria para pôr fim à guerra civil.

No terreno, diante da hesitação dos Estados Unidos em relação à ideia de armar islamitas presentes em grupos rebeldes, enquanto Arábia Saudita e o Qatar negam que forneçam armas pesadas aos insurgentes que possam mudar o curso da guerra, segundo o New York Times.

Sem armas pesadas, os rebeldes podem, na melhor das hipóteses, resistir às tropas de Assad, prolongando o conflito, consideram as autoridades desses dois países árabes, acrescenta o jornal.

"Os piores combates em Aleppo"

Neste domingo, combates eram travados entre rebeldes e o Exército em vários bairros de Aleppo, submetida aos ataques de artilharia, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), que indica um registro provisório de 17 mortos -7 civis e 10 rebeldes.

Os mais violentos ocorriam nos bairros de Bab al-Hadid e Shar. "São os piores combates que já vimos desde o começo da batalha de Aleppo", no dia 20 de julho, afirmou à AFP um morador de Bab al-Hadid, de 20 anos, que se negou a dar seu nome.

Segundo uma fonte militar em Aleppo, as forças regulares responderam durante a madrugada a "um forte ataque" dos rebeldes contra a base de Hanano, alvo de uma feroz batalha há três semanas.

Aleppo é assolada desde 20 de julho por intensos combates, depois de ter sido poupada durante muito tempo da violência que em 18 meses deixou mais de 31.000 mortos na Síria, de acordo com o OSDH, uma organização não-governamental opositora com sede em Londres que conta com uma ampla rede de militantes no país.

Na província de Damasco, a rede de televisão oficial anunciou que os soldados do regime "limparam" as cidades de El-Hamé e Qoudsaya, situadas cerca de dez quilômetros a noroeste de Damasco.

O OSDH confirmou a tomada de El-Hamé e indicou que os corpos de dez pessoas executadas a tiros, entre elas um rebelde, foram encontrados.

Em outras partes do país, vários setores de Homs e Hama (centro), de Deraa (sul) e da província de Idleb (noroeste) eram alvos bombardeios. A aviação também atacou Idleb, não muito longe da fronteira turca, segundo o OSDH.

Nesta província os rebeldes registraram importantes vitórias tomando o controle de uma aldeia na fronteira com a Turquia, em combates que custaram a vida de 40 soldados, ainda segundo o OSDH.

O sábado foi de baixas pesadas entre os soldados sírios, que perderam no total 62 homens, de acordo com a mesma fonte.

Disparos da Síria atingem a Turquia novamente

No sudeste da Turquia, um disparo de artilharia efetuado a partir da Síria atingiu neste domingo o vilarejo turco de Akçakale, onde cinco civis haviam sido mortos na quarta-feira passada por disparos sírios.

A artilharia turca respondeu imediatamente a esse ataque, que não deixou vítimas, segundo o prefeito da localidade.

"Deus seja louvado por não ter havido vítimas. A artilharia (turca) respondeu imediatamente aos disparos provenientes da Síria", ressaltou Abdülhakim Ayhan à agência de notícias semi-oficial Anatolia.

O obus caiu no jardim de um prédio público, que já havia sido esvaziado pelas autoridades, segundo o canal NTV.

O governo turco recebeu na quinta-feira a autorização do Parlamento para manter as operações militares contra a Síria, caso fosse necessário.

O incidente ocorrido em Akçakale, situado na província de Sanliurfa, foi o mais grave entre Damasco e Ancara desde a derrubada de um avião de combate turco pela defesa antiaérea síria em junho. Ele provocou um aumento brusco da tensão e reavivou os temores de uma propagação do conflito sírio.

Em uma entrevista concedida à televisão no sábado à noite, o chefe da diplomacia turca considerou que Chareh, vice-presidente desde 2006, poderia ficar à frente de um período de transição.

"Farouk al-Chareh é um homem de razão e de consciência e não se envolveu nos massacres na Síria. Ninguém além dele conhece melhor o sistema" na Síria, disse o chanceler turco, ressaltando que a oposição "está inclinada a aceitar Chareh" como futuro líder do governo sírio.

Chareh, personalidade sunita mais proeminente no poder alauita (braço do xiismo), é um homem de confiança do regime e foi por mais de 15 anos o ministro das Relações Exteriores.

Informações de que teria desertado em agosto foram desmentidas pelo regime, mas, segundo membros da oposição, ele estaria sendo mantido sob forte vigilância.

Não há indicações sobre o destino de dezenas de iranianos sequestrados em agosto por rebeldes, depois que no sábado chegou ao fim o prazo dado por um comando rebelde que ameaça matá-los se o Exército sírio não se retirar totalmente de Ghouta Oriental, área do subúrbio de Damasco.

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