Agência France-Presse
postado em 08/10/2012 06:16
Caracas - A Venezuela votou nesse domingo (7/10) por mais seis anos de governo do presidente Hugo Chávez, rejeitando a renovação proposta pelo jovem candidato opositor Henrique Capriles Radonski, em eleições qualificadas como as mais disputadas da história do país.Chávez foi reeleito com 54,66% dos votos, o que representa 7,7 milhões de eleitores, contra 44,73% (6,3 milgões) para o ex-governador Henrique Capriles Radonski, informou o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) após a apuração de 94% das urnas. A participação foi de 80,94% do eleitorado. "Eu me comprometo com vocês a ser melhor presidente do que tenho sido nestes anos", afirmou Chávez para milhares de simpatizantes reunidos no Palácio de Miraflores.
"Quero incluir a todos e a todas, incluindo os setores da oposição", completou o governante, que defendeu a "unidade nacional", em um discurso ao lado da família. Chávez, quem em 2011 teve um câncer diagnosticado do qual afirma ter sido curado, pediu a Deus "vida e saúde para seguir servindo ao povo venezuelano". Capriles felicitou Chávez. "Para saber ganhar há que saber perder", disse o ex-governador do estado de Miranda (norte), que entusiasmou a oposição ao representar o maior desafio eleitoral até o momento contra o poderoso presidente.
[SAIBAMAIS]Chávez, 58 anos e desde 1999 no poder, foi reeleito para governar por seis anos mais o país com grandes reservas de petróleo, que permitiram financiar programas sociais para as classes populares, seu sustento político. "Obrigado meu povo amado!! Viva a Venezuela!! Viva Bolívar!!", escreveu mais cedo o presidente no Twitter. Capriles reconheceu imediatamente o resultado: "Quero felicitar o candidato, o presidente da República, quero lhe mandar nossos parabéns, e que oxalá leia com grandeza a expressão do nosso povo no dia de hoje". "Aqui quem perdeu fui eu, o povo não deve se sentir derrotado, aqui o povo contribuiu para abrir um caminho e este caminho está aí (...) estamos neste caminho e não vou abandonar quase a metade deste país", afirmou Capriles.
"A outra opção teve mais votos que nós, assim é a democracia, mas obtive a confiança de milhões de venezuelanos e seguirei trabalhando por este caminho para os venezuelanos (...). Mais de seis milhões pensam que as coisas podem ficar muito melhor", destacou o líder da oposição, de 40 anos. "Peço hoje a quem manteve o poder que respeite, considere a quase metade do país que não está de acordo com seu governo", concluiu Capriles. Jorge Rodríguez, lider da campanha de Chávez, disse que esta foi, sem qualquer dúvida, a eleição mais disputada da história da Venezuela".
A presidente argentina, Cristina Kirchner, e seu colega equatoriano, Rafael Correa, foram os primeiros líderes estrangeiros a felicitar Chávez. "Hugo, quero lhe dizer que você arou a terra, semeou, regou e hoje fez a colheita", escreveu Kirchner no Twitter. Também no Twitter, Correa disse: "Chávez vencedor com quase 10 pontos de vantagem! Viva a Venezuela! Viva a Pátria Grande! Viva a Revolução Bolivariana". Mariela Castro, filha do líder cubano Raúl Castro, antecipou a vitória cerca de uma hora antes do resultado oficial ao postar: "a América Latina está em festa com a vitória de Chávez garantindo unidade e paz na região".
As seções eleitorais fecharam suas portas às 18h local (19h30 Brasília), ao final de uma votação sem maiores incidentes, mas a eleição prosseguiu por algumas horas onde havia filas. Os venezuelanos votaram com um sistema 100% informatizado de urnas eletrônicas. Chávez votou no bairro 23 de Janeiro, conhecido bastião da esquerda em Caracas, acompanhado por personalidades da esquerda e prometendo "reconhecer os resultados" da eleição, na qual conquistou seu quarto mandato consecutivo.
O presidente estava acompanhado de personalidades da esquerda, como a ex-senadora colombiana Piedad Córdoba, a prêmio Nobel da Paz e dirigente indígena Rigoberta Menchú, o nicaraguense Miguel D;Escoto, ex-presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas, a senadora uruguaia Lucía Topolansky e o ator americano Danny Glover. Capriles votou durante a tarde em Las Mercedes, na região de Caracas, afirmando que "a vontade do povo seria respeitada". O general Wilmer Barrientos, encarregado dos 139.000 militares mobilizados no país, não relatou qualquer anormalidade. Chávez chegou às eleições prometendo aprofundar sua "revolução socialista", enquanto Capriles ofereceu um modelo baseado no brasileiro, conciliando os setores público e privado.
O tenente-coronel da reserva, que sempre cresceu nas adversidades, fez uma campanha limitada, inclusive com ausências intermitentes, devido a um câncer recém-curado. Chávez se esforçou para deixar para trás as incertezas causadas pelo câncer, que nunca teve a gravidade revelada. Ele declarou estar livre da doença em julho passado, um ano após o diagnóstico, mas também advertiu que não seria o presidente hiperativo e onipresente do passado. Mas esta aparente fraqueza não ofuscou o líder impetuoso, ousado e provocador tão bem conhecido pelos venezuelanos desde 1992, quando liderou um golpe frustrado contra um desgastado sistema bipartidarista.
A tentativa o levou para a cadeia, mas também o tornou conhecido e em 1998 conquistou pela primeira vez a eleição presidencial. Desde então, foi reeleito em 2000 e em 2006, quando derrotou Manuel Rosales com 62% dos votos contra 37%, após um golpe contra ele (2002) e uma greve do petróleo (2003). Chávez tem agora mais seis anos para tornar "irreversível" seu sistema socialista e acelerar o Estado comunista, algo que os críticos veem como uma nova manobra para concentrar mais poder em suas mãos. Já é o comandante-em-chefe das Forças Armadas, presidente do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), que tem maioria na Assembleia Nacional, e controla a mídia estatal.