Caracas - Hugo Chávez venceu com comodidade as eleições presidenciais de domingo (7/10) e vai governar a Venezuela por mais seis anos, mas a oposição saiu fortalecida e com um líder, Henrique Capriles, que, pela primeira vez, reuniu quase a metade do país, que se opõe ao projeto socialista do atual presidente.
Chávez, desde 1999 no poder, venceu Capriles por mais de dez pontos, 55% a 44,3%, uma diferença de 1,5 milhão de votos, segundo os últimos dados do Conselho Nacional Eleitoral, após apuração de 95,5% dos votos.
O jornal opositor Tal Cual afirmou em sua edição desta segunda-feira que o presidente "não pode esquecer que tem diante de si e contra ele a metade do país". "A Venezuela infelizmente está dividida em duas metades. Um país assim não pode prosperar".
Prova desta divisão, a Venezuela amanheceu nesta segunda com dois ânimos totalmente opostos, entre a metade que apoiou Chávez e a outra que, pela primeira vez, acreditou na possibilidade de derrotar o poderoso presidente, mas não atingiu seu objetivo.
Nas primeiras horas da manhã, a televisão oficial VTV difundia sem parar imagens da vitória de Chávez ao som de uma música festiva e triunfal, enquanto que no leste de Caracas, reduto da oposição, as ruas estavam praticamente desertas e os poucos partidários de Capriles, visivelmente decepcionados.
"Como pode ser? Quanta ignorância. As pessoas estão muito deprimidas", queixou-se Jesús Fajardo, um aposentado do bairro de Chacao.
"Temos que manter o ânimo", afirmou, por sua vez, uma mulher com lágrimas nos olhos.
A vitória do presidente, cuja imagem ficou enfraquecida nos últimos meses por causa de um câncer do qual ele assegura estar curado, reafirma que Chávez continua contando com um grande apoio popular, especialmente entre os mais pobres.
"A participação de 80% da população foi maciça. Votaram em massa os setores D e E, os mais pobres, que apoiam o presidente", explicou o analista político Farith Fraija.
Mas a oposição, que nas últimas presidenciais, em 2006, perdeu por 25 pontos percentuais para o presidente, deu um salto inquestionável seis anos depois, graças ao jovem ex-governador Henrique Capriles, de 40 anos, 18 anos a menos que Chávez.
Chávez, à frente de um país com as maiores reservas de petróleo do mundo, estendeu no domingo, depois da divulgação do resultado, sua mão à oposição e fez um apelo á unidade nacional, apesar da polarização que marcou seu discurso na última década.
Capriles, eleito em primárias inéditas como candidato da oposição, num processo que consolidou a unidade de seu campo, prometeu no domingo, após a derrota, que não deixará sozinhos os mais de seis milhões de venezuelanos que votaram nele.
"Há uma oposição mais consolidada, com uma liderança e com muitas opções para o futuro", analisou o presidente da empresa Datanálisis, Luis Vicente León.
"Não estou minimizando, Chávez ganhou sem dúvida, é um monstro da política, mas esta não é a mesma eleição de 2006. Agora há um líder na oposição que pode capitalizar a unidade de seus críticos", enfatizou León.
No entanto, os dois campos defendem dois projetos diametralmente distintos: o presidente aposta em tornar irreversível sua revolução socialista, frente ao programa progressista de Capriles, inspirado no da esquerda brasileira.
[SAIBAMAIS] Chávez, que personifica o poder e mantém uma conexão quase pessoal com as classes populares, pretende, além disso, potencializar o Estado centralizado, algo que, segundo seus críticos, vai eliminar os potenciais característicos de cada região.
Também manterá suas políticas que estagnaram o setor privado, com maciças desapropriações e rígidas regulações, especialmente um rígido controle do câmbio e dos preços.
Suas "missões" sociais financiadas com a renda do petróleo e que tanto o ajudaram eleitoralmente desde seu lançamento em 2003, continuarão sendo o eixo central de sua política.
A reeleição de Chávez foi acolhida com satisfação pelos líderes da América Latina, mas os Estados Unidos pediram que, no futuro, sejam levados em conta os mais de seis milhões de pessoas que votaram na oposição.
"Acreditamos que as posições de mais de seis milhões de pessoas devem ser levadas em conta no futuro", afirmou à AFP o porta-voz para a América Latina do Departamento de Estado, William Ostick.