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Síria acusa Turquia de 'mentir' e se comportar de maneira hostil

Agência France-Presse
postado em 11/10/2012 19:52

Damasco - A Síria acusou nesta quinta-feira (11/10) a Turquia de "mentir" e de se comportar de maneira hostil em relação ao país após o anúncio feito pelo governo turco de uma apreensão de munições russas destinadas ao regime de Bashar al-Assad a bordo de um avião de passageiros interceptado na véspera. No terreno, pelo menos 87 soldados sírios foram mortos em combates desta quinta-feira, o registro mais pesado em um dia para o Exército desde a eclosão do conflito armado na Síria, de acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

Os rebeldes conquistaram uma importante vitória ao cortar a estrada que liga as duas principais cidades do país, Damasco e Aleppo, após a tomada do controle de um trecho de cerca de 5 quilômetros da rota estratégica. As relações entre a Turquia - majoritariamente sunita e governada por conservadores islâmicos -, e a Síria, governada par uma minoria alauita (braço do xiismo), se degradaram depois do início da revolta contra o regime Assad, em março de 2011.

Elas chegaram ao seu pior ponto depois da morte de cinco civis turcos atingidos por disparos de morteiros sírios na fronteira, em 3 de outubro, as relações entre os dois ex-aliados. A tensão aumentou na quarta-feira após a interceptação na Turquia de um avião de passageiros sírio que fazia a ligação Moscou-Damasco.

O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, afirmou que o Airbus transportava "munições" e material militar com destino a Damasco proveniente de uma fabricante russa, informação negada por uma fonte russa dos serviços de exportação de armes. Erdogan "continua com sua série de declarações mentirosas com o objetivo de justificar o comportamento hostil de seu governo em relação à Síria", considerou o Ministério sírio das Relações Exteriores em um comunicado, no qual desmentiu - novamente - a presença de armas a bordo do avião.

O Ministério sírio do Interior desafiou Erdogan a "mostrar esses equipamentos e as munições apreendidas", afirmando que suas declarações "não têm credibilidade". O presidente francês, François Hollande, considerou que existe um risco de escalada entre Síria e Turquia, país que ele saudou pela "moderação". "Criar um conflito internacional poderá colocar a Síria contra um agressor supostamente vindo do exterior".

Rebeldes marcam pontos

No terreno, os rebeldes avançaram ao tomar o controle de vários quilômetros da estrada internacional que liga a capital a Aleppo, na altura da cidade de Maaret al-Nooman. Aleppo é palco de uma grande batalha que já dura três meses por este eixo estratégico.

Em dois dias, os insurgentes conseguiram tomar o controle de oito posições do Exército nesta cidade estratégico, passagem obrigatória para os reforços do Exército em direção a Aleppo, mais ao norte.

Durante a noite, o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH) anunciou que os rebeldes haviam se apoderado também de uma outra posição crucial a oeste de Saraqeb, também ao sul de Aleppo, após horas de intensos combates em que morreram "um grande número de soldados e nove rebeldes".


No centro do país, os bairros rebeldes de Homs e a cidade insurgente de Qousseir ainda eram alvos de ataques, segundo o OSDH, apesar do anúncio feito pelo Exército há três dias da "limpeza" dos últimos bolsões de resistência. O Exército decidiu efetuar os ataques finais nessas duas cidades, cercadas há meses, com o objetivo de concentrar suas forças no norte e reconquistar o terreno perdido.

Em Damasco, uma forte explosão sacudiu o prédio da justiça militar no oeste da cidade, segundo o OSDH. A televisão síria indicou que um atentado terrorista deixou dois feridos nesta área. A violência deixou nesta quinta-feira 155 mortos, sendo 51 civis, 62 soldados e 42 rebeldes, segundo o OSDH. De acordo com esta ONG, que se baseia em uma ampla rede de militantes e médicos, mais de 32.000 pessoas morreram na Síria desde o início do levante, em março de 2011.

Brahimi discute en Arabie

No campo diplomático, o mediador internacional Lakhdar Brahimi iniciou na Arábia Saudita, país muito crítico em relação a Damasco, em uma nova viagem regional para tentar encontrar uma saída para o conflito. Brahimi se reuniu com o vice-ministro das Relações Exteriores, o príncipe Abdul Aziz bin Abdullah, filho do soberano saudita, encarregado da questão síria, que o exortou a agir para deter "o derramamento de sangue do povo sírio", segundo a agência oficial Spa.

Brahimi já havia visitado em uma primeira oportunidade ao Oriente Médio em meados de setembro, principalmente a Damasco, onde se reuniu com o presidente Assad. Ele ainda não conseguiu obter concessão alguma dos sírios. Enquanto isso, a União Europeia está preparada para tomar medidas na segunda-feira contra 28 partidários de Assad e duas empresas, como parte de sua 20; rodada de sanções contra o regime, de acordo com fontes diplomáticas.

Em um momento em que o número de refugiados e deslocados não para de aumentar, o coordenador regional da ONU para os refugiados, Panos Mumtzis, advertiu que os meios para ajudar os rebeldes são cada vez mais escassos. Na fronteira sírio-libanesa, novamente envolvida pelo conflito, pelo menos oito pessoas foram mortas por um "grupo terrorista" que atacou um ônibus vindo do Líbano e que transportava trabalhadores sírios, segundo a televisão oficial síria.

A organização Anistia Internacional pediu a todas as partes em conflito na Síria que protejam seus prisioneiros, indicando ter registrado 590 casos de pessoas mortas em detenção nas prisões do regime, mas denunciando o fato de os rebeldes também praticarem "sequestros, tortura, mais-tratos e execuções sumárias".

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