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Joe Biden eleva o tom em debate com Paul Ryan nas eleições americanas

Agência France-Presse
postado em 12/10/2012 08:33

Danville - Os candidatos à vice-presidência dos Estados Unidos, Joe Biden e Paul Ryan, participaram na noite de quinta-feira de um debate intenso sobre política externa e economia, em um encontro crucial para os democratas, que buscam impedir o avanço de Mitt Romney nas pesquisas sobre o presidente Barack Obama.

O veterano vice-presidente democrata Biden, 69 anos, e o aspirante republicano Ryan, de 42 anos, trocaram alfinetadas, em vários momentos interrompendo o oponente, sobre o programa nuclear do Irã, a morte do embaixador americano na Líbia, os impostos para os ricos e o sistema de saúde.

Enfático, às vezes elevando o tom de voz, Biden se mostrou com a missão clara de reverter o avanço do republicano Romney sobre Obama nas pesquisas no debate de 90 minutos em Danville, Kentucky, a menos de quatro semanas das eleições de 6 de novembro.

Obama teve uma atuação muito criticada contra Romney no primeiro debate, semana passada, e caiu nas pesquisas.

Pela primeira vez desde o início da campanha, o site RealClearPolitics, que faz a média das pesquisas, mostra uma liderança de Romney sobre Obama a nível nacional, 47,1% contra 46,4%.

"Quero destacar que Joe Biden esteve excelente esta noite (...). Não poderia estar mais orgulhoso dele. Penso realmente que sua vontade de trabalhar pela classe média se impôs. Estou muito orgulhoso dele", afirmou com evidente satisfação o presidente Obama.



O debate foi voltado para questões internacionais, como o combate ao terrorismo e a tentativa do Irã de obter a bomba atômica.

No confronto na cidade de Danville, os dois homens duelaram sob a mediação da jornalista Martha Raddatz, da ABC News.

Logo na pergunta de abertura, Raddatz questionou se o ataque contra o consulado americano em Benghazi, na Líbia, no aniversário do 11 de setembro, que resultou na morte de quatro funcionários americanos, entre eles o embaixador americano Chris Stevens, resultou de uma falha de segurança.

Joe Biden afirmou que quaisquer "erros" cometidos pela atual administração em Benghazi não se repetirão. Ryan, por sua vez, criticou a demora do presidente americano, Barack Obama, em tratar o ataque como um atentado terrorista, o que demonstraria que a política externa do governo democrata estaria "desmoronando".

"Nós vamos encontrar e levar à Justiça os homens que fizeram isto. Quaisquer erros que tenham sido cometidos, não se repetirão", prometeu Biden.

Ryan, 42 anos, criticou o fato de "o presidente Obama ter levado duas semanas para admitir que (o ataque em Benghazi) se tratou de um atentado terrorista".

"Não deveríamos ter um destacamento militar para proteger nosso embaixador em Benghazi?" - questionou o republicano, avaliando que os recentes ataques antiamericanos no mundo árabe demonstram que "quando damos a impressão de sermos fracos, nossos inimigos são mais inclinados a nos testar".

"Esta questão em Benghazi seria uma tragédia em si", afirmou Ryan. "Mas infelizmente, é um indício de um problema mais amplo, e o que estamos vendo é o desmoronamento da política externa de Obama, que está tornando as coisas mais caóticas e deixando-nos menos seguros".

Biden contra-atacou. "Com todo o respeito, isto é um monte de besteiras. Nada do que ele disse é correto", acrescentou.

Porém, o vice-presidente admitiu que o governo foi mal informado pelas agências de inteligência na sequência do ataque e disse que haverá uma investigação para garantir que os mesmos erros não voltem a ser cometidos.

Após o incidente, o governo Obama inicialmente tratou o caso como um protesto contra um filme anti-islâmico que saiu do controle, antes de reconhecer que se tratou de um ataque planejado por militantes armados.

Os dois candidatos voltaram a se enfrentar sobre outro tema sensível do Oriente Médio: o programa nuclear iraniano.

Para o candidato republicano, a segurança dos Estados Unidos se debilitou nos últimos quatro anos. "Quando Barack Obama foi eleito, (os iranianos) tinham material nuclear para fabricar uma bomba. Atualmente, eles têm quantidade para cinco".

"Incrível", reagiu Biden, ofendido. Para ele, a República Islâmica ainda está "bem longe" de conseguir a bomba atômica.

"Os israelenses e os Estados Unidos, assim como todos os serviços de inteligência militares chegaram às mesmas conclusões quanto ao fato de saber se o Irã está perto de ter uma arma nuclear. Eles ainda estão longe", disse Joe Biden. Mas "nós não vamos permitir que os iranianos tenham a arma nuclear", assegurou.

"Toda esta conversa de que precisam apenas enriquecer urânio para ter as armas não é verdade, não é verdade. Se alguma vez precisarmos entrar em ação, teremos o mundo ao nosso lado, ao contrário do que ocorria quando assumimos o governo", disse Biden.

O Ocidente e Israel acusam Teerã de esconder o desenvolvimento da bomba atômica sob um suposto programa nuclear civil, o que o regime nega.

Paul Ryan também disparou contra a administração democrata na área econômica, culpando o atual goberno pelo desemprego e o fraco desempenho econômico: "quando Barack Obama foi eleito, seu partido controlava tudo, tinha o poder para fazer tudo e olhem onde estamos".

O candidato a vice na chapa republicana reafirmou que Mitt Romney reduzirá o imposto de renda sobre todos os salários, e que compensará a queda na arrecadação acabando com os "nichos fiscais e as isenções para contribuintes acomodados".

Isto é "matematicamente impossível", rebateu Biden, que propõe com Obama um aumento de impostos para os mais ricos. "Não podemos nos permitir (reduzir impostos) para pessoas que ganham mais de um milhão de dólares. Eles não precisam, é a classe média que precisa".

Sobre o desemprego, Biden destacou que a taxa caiu abaixo dos 8% em setembro passado nos Estados Unidos. "Não sei quanto tempo levará, mas podemos chegar abaixo dos 6%", concluiu o vice de Barack Obama.

Romney ligou para Ryan após o debate para elogiar sua participação, informou a campanha republicana.

O debate de quinta-feira foi o primeiro nos Estados Unidos entre dois candidatos católicos, que apesar da mesma religião expressam grandes diferenças sobre temas importantes: Biden prioriza a necessidade de cuidas dos pobres, Ryan mostra oposição ao aborto e ao casamento gay.

O tema aborto surgiu durante o debate, mas não outros como a imigração, que é sensível para a principal minoria do país, os latinos.

Obama e Romney voltarão a debater mais duas vezes, nos dias 16 e 22 de outubro.

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