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Angela Merkel se impõe como a voz da Europa, dizem analistas

Agência France-Presse
postado em 12/10/2012 15:48
Berlim - A chanceler alemã, Angela Merkel, figura cada vez mais como a voz da Europa, impondo seu discurso de austeridade aos países do sul e a uma França debilitada, segundo analistas.

Até poucos meses atrás, a Grécia via no presidente francês François Hollande um potencial "Roosevelt europeu" --- conforme afirmou o jornal Ta Nea --- capaz de tirar a Europa da crise graças a um plano para relançar a economia através de investimentos públicos.

Contudo, foi finalmente Merkel quem foi recebida esta semana em Atenas por seu homólogo Antonis Samaras. Os dois dirigentes defenderam juntos a redução do gasto e as reformas estruturais dolorosas exigidas pelos credores do país em troca de uma nova ajuda financeira.

A França, no entanto, continua imersa em um debate nacional para votar o tratado europeu de disciplina orçamentária.

Enquanto isso, a forte influência das declarações de Merkel nos mercados tem convertido Berlim na nova capital da Europa.

"Berlim é a nova Bruxelas", afirma Ulrike Guerot, do Conselho Europeu de Relações Exteriores, destacando o contraste da situação demonstrada pela fragilidade de Paris.

"Ainda não vemos sinais de que Hollande será o que se espera que ele seja, de que ele irá se converter em um novo Mitterrand", comenta Guerot. Ao mesmo tempo, as manifestações violentas de terça-feira em Atenas colocaram em evidência o peso da história, que cria forte oposição à liderança alemã.

Guerot reconhece, no entanto, que o presidente francês soube orquestrar uma resistência do Sul contra Merkel e que, apesar de seu peso econômico e político, a Alemanha não poderia afrontar apenas uma coalizão de seus principais sócios europeus. O equilíbrio de poderes na Europa continua sendo um tema complicado.

Jean-Dominique Giuliani, presidente da Fundação Robert Schuman, com sede em Bruxelas, disse que nunca acreditou na interpretação da reunião europeia do final de junho, segundo a qual Hollande conseguiria superar a liderança alemã com a ajuda de Espanha e Itália.

Segundo Giuliani, "a influência de Merkel conseguiu se expandir devido em parte ao recuo da França. "Hollande não parece estar interado de que a Europa está baseada na dupla franco-alemã e atualmente se mantém à margem", afirma. "É uma falta de prática que deve ser corrigida com o tempo", completou.

O italiano Michele Comelli, especialista em questões europeias do Instituto de Assuntos Internacionais (IAI), acredita que o público em geral tem visto cada vez mais Angela Merkel como a principal figura na tomada de decisões europeias. "A relação de igual para igual instaurada no princípio (por Hollande) está desaparecendo", afirma.

Espanha e Itália podem ver em Hollande "um respaldo importante sobre certas questões, como os eurobônus ou o crescimento, mas França tem seus próprios problemas e não existe uma identidade completa de pontos de vista entre os três países", analisa Comelli.

A chanceler alemã se beneficia de uma predominância conservadora na Europa na hora de promover seus pontos de vista, mas há vezes que afronta um parte da opinião pública, como durante sua visita à Atenas.

"A decisão de Merkel de ir a um país onde boa parte da população não a considera bem vinda é um claro sinal de que Berlim está determinada a impor sua ótica de austeridade ao resto do continente", analisa por sua vez George Gilson, especialista em questões europeias do semanário Athens News.

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