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Acusado de genocídio, ex-líder sérvio afirma que deveria ser recompensado

Agência France-Presse
postado em 16/10/2012 08:16
Haia - Radovan Karadzic, ex-líder político dos sérvios da Bósnia, afirmou nesta terça-feira (16/10), perante os juízes do Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia (TPII), em Haia, onde é julgado por genocídio, que deveria ser recompensado por suas ações em favor da paz.

"Eu não deveria ser acusado, deveria ser recompensado por todas as boas ações que fiz: eu fiz tudo o que era humanamente possível para evitar a guerra e aliviar o sofrimento humano", declarou em voz baixa, no início de sua apresentação de defesa. "Ninguém pensou que haveria um genocídio na Bósnia", disse ele, acrescentando, sob os olhares incrédulos das mães de vítimas e sobreviventes presentes, ser um homem "gentil, tolerante, com uma grande capacidade de compreender os outros".

Karadzic, de 67 anos, é acusado de genocídio, crimes contra a humanidade e crimes de guerra cometidos durante a guerra da Bósnia, entre 1992 e 1995, durante a qual 100 mil pessoas morreram. Ele deve responder, entre outras acusações, pelo massacre de cerca de 8.000 homens e meninos muçulmanos em Srebrenica, no leste da Bósnia, em julho de 1995, o pior massacre na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

Segundo a acusação, ele tentou "caçar permanentemente os muçulmanos e croatas da Bósnia dos territórios reivindicados pelos sérvios da Bósnia". Radovan Karadzic acrescentou que "não tem nada contra os muçulmanos e croatas", e que até frequentou um barbeiro muçulmano antes da guerra. Desde o início do julgamento, ele assegura que as atrocidades são "mentiras, propaganda e rumores".

Referindo-se ao bombardeio de Sarajevo e, especialmente, ao do mercado de Markale, que fez 67 mortes, ressaltou que "os corpos de pessoas que morreram de forma natural foram levados do necrotério e colocados no mercado para criar um sentimento de catástrofe". Para se defender, Karadzic tem 300 horas atribuídas pelos juízes, o mesmo tempo dado à acusação. Karadzic foi preso em julho de 2008 em Belgrado, onde vivia com um nome falso e praticava medicina alternativa, depois de se esconder por treze anos.

[SAIBAMAIS]Seu julgamento começou em outubro de 2009 e a apresentação das provas da acusação ocorreu entre abril de 2010 e maio de 2012. Membros da associação "Mães de Srebrenica", assim como sobreviventes de campos de concentração localizados perto de Prijedor, noroeste da Bósnia, estavam presentes em Haia. Fikret Alic, cuja fotografia tirada há 20 anos percorreu o mundo e revelou a existência desses campos no coração da Europa, explicou que foi a Haia "para representar todas as pessoas que foram vítimas de suas ações".



"Foi muito humilhante ouvir seu discurso", disse após a declaração de Karadzic. "O mundo inteiro viu o que aconteceu na Bósnia, ele não pode se apresentar como um guardião da paz". "Estamos aqui com mulheres que foram estupradas nos campos, mulheres que perderam pais e filhos em Srebrenica, que sobreviveram ao genocídio: estamos aqui para contar nossas histórias, somos testemunhas do genocídio", acrescentou este homem de rosto marcado pelo sofrimento experimentado nos campos.

As associações de vítimas estão em cólera após a decisão em junho dos juízes do TPIJ de absolver Karadzic das acusações de genocídio em municípios da Bósnia entre março e dezembro de 1992. Depois de sua declaração, Karadzic chamou sua primeira testemunha, Andrei Demurenko, um coronel russo da ONU que foi chefe de Estado-Maior em 1995 para o Setor de Sarajevo, sitiado pelas forças sérvias de 1992 a 1995. O presidente grego Carolos Papoulias, ministro das Relações Exteriores de seu país de 1993 a 1996, também está na lista de testemunhas.

O TPII também deu início nesta terça-feira a seu último julgamento, o de Goran Hadzic, ex-responsável pelos sérvios da Croácia durante a guerra da Croácia (1991-1995). O alter ego militar de Karadzic, Ratko Mladic, 70 anos, compareceu perante o TPII também por ter, de acordo com a acusação, matado, torturado, estuprado e detido milhares de muçulmanos e croatas em várias cidades da Bósnia e pelo massacre de Srebrenica.

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