Damasco - O governo sírio disse estar interessado em explorar a possibilidade de um cessar-fogo com os rebeldes, como havia proposto o enviado internacional Lakhdar Brahimi, que lançou um apelo em ocasião da festa muçulmana do Al-Adha, no final de outubro.
Enquanto isso, as tropas do regime procuram retomar o controle de uma região estratégica para a passagem de reforços militares em direção ao norte da Síria, devastada por um ano e meio de conflito.
"A parte síria está interessada em explorar esta opção", declarou o porta-voz do Ministério sírio das Relações Exteriores, Kihad Maqdisi.
No entanto, o porta-voz destacou que o êxito de qualquer tentativa para conter a violência deverá incluir obrigatoriamente os rebeldes e os grupos que os apoiam.
"Esperamos voltar a conversar com o senhor Brahimi para conhecer a posição de outros países influentes na região com os quais manteve conversações em seu atual giro (...) Será que eles vão pressionar os grupos armados que financiam, armam e patrocinam para que consigamos um cessar-fogo?", questionou.
Brahimi realiza há uma semana uma viagem regional para tentar encontrar uma solução para a guerra civil na Síria, provocada pela repressão brutal a uma onda de contestação popular nascida em março de 2011.
Após uma visita à Arábia Saudita, reino que tem feito duras críticas a Damasco, ele visitou a Turquia, que apoia os rebeldes sírios e acolhe alguns comandantes em seu território.
O emissário também visitou o Irã, aliado de Damasco, onde fez um apelo às autoridades para que ajudem no estabelecimento de um cessar-fogo na Síria durante a grande festa muçulmana de Al-Adha.
Nesta terça-feira (16/10), no Cairo, Brahimi deve se reunir com o secretário-geral da Liga Árabe, Nabil al-Arabi.
Neste contexto, o Papa Bento XVI anunciou o envio de uma delegação oficial à Síria como gesto de solidariedade para com toda a população deste país devastado por mais de um ano e meio de conflito, anunciou o secretário de Estado do Vaticano, Tarcisio Bertone.
10 crianças mortas nos bombardeios --------------------------------------
No terreno, o Exército realiza há 48 horas um contra-ataque para retomar uma região estratégica próxima de Maaret al-Nooman, situada na estrada Damasco-Aleppo. Os reforços militares devem necessariamente passar por ela para chegar ao norte, que está em poder dos rebeldes.
Ao tomar o controle de Maaret al-Nooman, na província de Idleb (noroeste), no dia 9 de outubro, os rebeldes cortaram esta estrada e têm atacado sistematicamente os reforços que se aproximam da região, segundo o Observatório dos Direitos Humanos (OSDH).
[SAIBAMAIS] "Os ataques das forças de ordem são os mais violentos desde que os insurgentes tomaram o controle", declarou o presidente do OSDH, Rami Abdel Rahman, que contabilizou 29 ataques aéreos.
Ainda na província de Idleb, bombardeios do Exército em Kafr Noubol mataram duas crianças, de seis e dez anos, e deixaram vários feridos, segundo a ONG.
No leste do país, em Mayadine, ao menos nove civis, entre eles sete crianças, morreram nos bombardeios.
Em Homs (centro), chamada de "capital da Revolução" pelos militantes, o bairro de Khaldiyé, que o regime tenta controlar, é atacado desde o amanhecer, assim como a cidade rebelde de Talbissé.
Ao menos 78 pessoas, entre elas 37 civis, 24 soldados e 17 rebeldes, morreram nesta terça-feira em toda a Síria, segundo um balanço provisório do OSDH.
Os preços dobraram em 19 meses
Enquanto a situação humanitária piora a cada dia, o Programa Alimentar Mundial (PAM) lamentou o aumento dos preços dos alimentos na Síria, que dobraram em algumas regiões desde o início do conflito há 19 meses.
"Nós vemos com o aumento da violência em alguns lugares que os preços continuam a aumentar", declarou uma porta-voz do PAM, Elisabeth Byrs, durante uma coletiva de imprensa.
De acordo com o PMA, "os preços mais que dobraram em áreas onde os confrontos acontecem", e em algumas regiões foram registrados um aumento de até 20%.
Ainda no plano humanitário, a organização Human Rights Watch criticou o "fracasso" do Conselho de Segurança da ONU em recorrer ao Tribunal Penal Internacional (TPI) "em situações no Sri Lanka, Gaza e, ainda mais marcante, na Síria", na véspera de um debate no Conselho que vai discutir o papel deste tribunal.
Em Damasco, as autoridades anunciaram a organização de eleições legislativas parciais para preencher cinco cadeiras do Parlamento, que ficaram vazias depois que os políticos desertaram.