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Saiba o que está em jogo na mesa de paz do governo colombiano e das Farc

Agência France-Presse
postado em 17/10/2012 14:01
Bogotá - O governo da Colômbia e a guerrilha das Farc negociam a partir de quinta-feira (18/10) na Noruega um acordo que deve encerrar o último grande conflito armado da América Latina e que também pode ter impacto na vida de milhares de colombianos e na produção de coca.

Este quarto processo de paz que a Colômbia vem tentando implementar nas últimas três décadas começa publicamente em Oslo, mas se desenvolverá a partir dos próximos dias a portas fechadas em Cuba. Estes dois governos estrangeiros atuarão como fiadores dos diálogos, enquanto os de Venezuela e Chile serão acompanhantes.

Principais dados do conflito e do processo de diálogo:

- As partes não marcaram prazos para chegar a um acordo, mas o presidente Juan Manuel Santos declarou que as negociações "serão medidas em meses, não em anos". O governo também descartou que durante as negociações seja decretado um cessar-fogo na Colômbia.

- O governo da Colômbia tentou negociar três vezes com as Farc: entre 1984 e 1987 com o ex-presidente Belisario Betancur; entre 1991 e 1992 com o ex-presidente César Gaviria; e entre 1999 e 2002 com o ex-presidente Andrés Pastrana.

- As Farc, que chegaram a ter até 20.000 guerrilheiros nos anos 1990, sofreram na última década uma intensa ofensiva das forças militares colombianas, com a ajuda dos Estados Unidos.

Três de seus mais importantes chefes morreram em bombardeios da força aérea: Raúl Reyes, em 2008; Jorge Briceño (Mono Jojoy), em 2010; e Alfonso Cano, em 2011. Atualmente este grupo conta com cerca de 9.200 integrantes confinados às zonas rurais mais afastadas do país.

Em novembro de 2011, com a morte de Cano, o comando supremo das Farc foi assumido por Timoleón Jiménez (Timochenko), de 53 anos, 33 dos quais nas fileiras guerrilheiras.

- A agenda da mesa de diálogo está circunscrita a cinco pontos:

Desenvolvimento rural: Para corrigir o atraso e a desigualdade na posse da terra em boa parte do campo colombiano, de onde as Farc surgiram há quase meio século.

Participação política: As garantias que serão aplicadas para o exercício da oposição política diante da previsível participação da guerrilha ou de movimentos relacionados. Nos anos 1980, cerca de 3.000 integrantes do partido União Patriótica - nascido do processo de paz que o ex-presidente Betancur buscava alcançar - foram assassinados, incluindo dois candidatos presidenciais, por grupos paramilitares de extrema direita, narcotraficantes e setores ligados às forças de segurança colombianas. O Congresso da Colômbia aprovou este ano um marco jurídico para a paz que permitirá a suspensão de penas para aqueles guerrilheiros que abandonarem a luta armada.

Fim do conflito armado: Inclui o abandono das armas e a reintegração dos rebeldes à vida civil.

Drogas ilícitas: A Colômbia é a maior produtora de cocaína do mundo, com 345 toneladas estimadas em 2011. Mais de 100.000 famílias camponesas cultivam a folha de coca, muitas delas em zonas de influência das Farc, que cobra impostos dos agricultores. O governo denuncia que a guerrilha também participa de algumas fases do tráfico de drogas.

Direitos das vítimas: Ao longo de quase meio século de conflito interno, a Colômbia acumulou centenas de milhares de vítimas. O governo calcula 600 mil mortos vítimas de diversos grupos armados. Além disso, há 3,7 milhões de deslocados internos pela violência, e 15.000 pessoas desaparecidas nos últimos 30 anos. As partes devem buscar mecanismos para possibilitar verdade e reparação, assim como garantias de não repetição.

[SAIBAMAIS]A Colômbia, a terceira maior economia da América do Sul e uma das que mais cresce na região (5,9% em 2011), quer acelerar este ritmo em um cenário de paz, assim como reduzir suas Forças Armadas de cerca de 432 mil policiais e militares, que consome 3,5% de seu Produto Interno Bruto.



A Colômbia alcançou processos de paz bem-sucedidos com as guerrilhas esquerdistas Movimento 19 de Abril (M-19) e Exército Popular de Libertação (EPL), em 1990; e com a guerrilha indígena Quintín Lame, em 1991. Além das Farc, ainda permanece ativa na Colômbia a guerrilha Exército de Libertação Nacional (ELN), com cerca de 2.500 combatentes.

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