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Santos e Timochenko, dois pragmáticos que levam a Colômbia à mesa de paz

Agência France-Presse
postado em 17/10/2012 14:56

Presidente colombiano Juan manuel Santos

Bogotá - O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, e o líder das Farc, Timoleón Jiménez, vistos até recentemente como homens calejados pelo conflito armado, são, com uma grande dose de pragmatismo, os arquitetos do processo de paz, que começa quinta-feira em Oslo.

Santos, um líder de centro-direita de 61 anos, assumiu o governo da Colômbia em 2010 com o aval do ex-presidente Alvaro Uribe (2002-2010), que combateu intensamente a guerrilha de esquerda ao lado de seu sucessor e ministro da Defesa em seu governo.

Como ministro, não hesitou em ordenar em 2008 o bombardeio do acampamento das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) em território equatoriano, que causou a morte do então número dois da guerrilha, Raúl Reyes, e que levou à ruptura das relações por parte de Quito.

Nascido em uma família liberal tradicional de Bogotá, Santos estudou economia nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, trabalhou no jornal El Tiempo e foi ministro de diversas pastas ao longo dos últimos 20 anos.

Já na presidência, Santos também ordenou os ataques militares que mataram o líder militar das Farc, Jorge Briceño (Mono Jojoy) em 2010, e o comandante máximo da guerrilha, Alfonso Cano, no ano seguinte.

O assassinato de Cano ocorreu apesar dos contatos avançados com Santos em busca de um diálogo, segundo relatou no final de setembro o próprio presidente.

"A pessoa que indiretamente se comunicou comigo foi o número um dos guerrilheiros, o seu líder" Alfonso Cano, disse Santos em um fórum nos Estados Unidos. "E eu tive que tomar uma decisão muito difícil. Cercamos este líder. Regras são regras, se quisermos ser bem sucedidos, temos de ser claros sobre as regras e perseverar", explicou.

Santos, sobrinho do ex-presidente Eduardo Santos (1938-1942), foi educado em um ambiente "liberal e republicano" e "nunca aderiu a posições radicais", destacou o analista político Fernando Giraldo.

"Assumiu o Ministério da Defesa como um passo necessário para alcançar a presidência. Trabalhou com um governo que era radicalmente antiguerrilha, e, como estrategista, sabia que tinha que assumir os custos. Mas seu objetivo é entrar para a história e, para isso, precisa obter a paz para a Colômbia depois de 50 anos de conflito", acredita o analista.

Timoleón Jiménez, de 53 anos, conhecido como Timochenko, assumiu em novembro de 2011 a liderança suprema das Farc, e decidiu continuar os contatos com o governo.

Timoleon Jimenez, conhecido como

Conhecido como o chefe da contra-inteligência da guerrilha, o comandante mais jovem do Secretariado (cúpula de liderança) é descrito como um líder militar, mas também político.

"Timochenko não era um radical, podemos dizer que pertence à ala pragmática das Farc, e, ao contrário de Cano, não é um dogmático", revelou à AFP Ariel Avila, pesquisador da Corporación Nuevo Arco Iris, que analisa o conflito interno colombiano.

"Sempre foi favorável a obter uma solução negociada para o conflito. Sente-se politicamente capacitado e espera que as Farc se tornem um movimento político", disse este especialista.

Jiménez, cujo verdadeiro nome é Rodrigo Londoño, militou na Juventude Comunista e recebeu treinamento ideológico na ex-União Soviética.

[SAIBAMAIS] Após o seu regresso à Colômbia, em 1979, juntou-se às Farc. Em dois anos, ele se tornou comandante de frente. Em 1982, com 23 anos, se juntou ao Estado-Maior da guerrilha, composto por 30 membros, e aos 26 foi parar no Secretariado, integrado por sete comandantes.

No início de 2012, Timochenko enviou uma carta a Santos, na qual o chamou para participar de "uma mesa de negociação hipotética" e, dias depois, comprometeu-se a impedir os sequestros de civis, uma das demandas mais urgentes do chefe Estado.

Em abril passado, as Farc libertaram os últimos 10 policiais e militares que mantinham em seu poder. Santos reconheceu que os guerrilheiros tinham dado um passo em direção ao estabelecimento de um diálogo, mas considerado insuficiente.

No entanto, desde o início deste ano foram realizadas em Havana negociações secretas que levaram ao acordo preliminar que resultou na decisão de formalizar na quinta-feira na Noruega este processo de paz.

"Há um acordo geral assinado em Havana diante de testemunhas e fiadores internacionais. (...) Faria mal neste momento criar desconfianças pessoais", declarou Timochenko na segunda-feira.

A reunião dos dois líderes que combatem desde 1964 foi descrita por Giraldo como o encontro de "duas pessoas moderadas e pragmáticas, que criam uma expectativa positiva. Esperemos que não nos levem a um fiasco, porque nunca houve condição melhor" para a paz, considerou.

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