Grosseto - O comandante do Costa Concordia, Francesco Schettino, foi autorizado nesta quinta-feira (18/10) pelo tribunal de Grosseto (centro da Itália) a ilustrar com um vídeo as manobras realizadas durante o naufrágio em janeiro do transatlântico, que causou a morte de 32 pessoas e pelo qual é considerado o maior responsável.
"Durante a exibição de um vídeo produzido por seus advogados com base nos dados do radar, Schettino explicou passo a passo todas as ordens dadas antes e depois do choque com as rochas e as razões por que as transmitiu", declarou à AFP um dos especialistas presentes, que não quis se identificar.
O capitão do cruzeiro obteve excepcionalmente uma autorização para falar ao tribunal de instrução da Toscana para esclarecer os aspectos técnicos relacionados aos dados da caixa preta.
Durante a instrução do julgamento é habitual que participem apenas advogados, especialistas e promotores e que os acusados evitem tomar a palavra.
Segundo o jornal La Repubblica, Schettino utilizou termos muito técnicos para ilustrar todas as fases que antecederam e sucederam o acidente na ilha de Giglio.
O capitão assumiu principalmente a manobra que permitiu que o navio encalhasse nas rochas em uma superfície não muito profunda, o que evitou que afundasse completamente e que a tragédia adquirisse dimensões maiores.
Schettino afirma que, graças a sua habilidade, conseguiu salvar a maior parte dos passageiros.
O processo de instrução foi iniciado na segunda-feira e deverá estabelecer se será aberta uma ação penal pelo naufrágio.
[SAIBAMAIS] O "homem mais odiado da Itália", como indicava a imprensa local, aceitou se expor, convencido de que não é o único responsável pela tragédia, ocorrida no dia 13 de janeiro com 4.200 pessoas a bordo.
O comandante deve responder por homicídio, naufrágio e abandono do navio.
Outros seis membros da tripulação e três dirigentes da empresa Costa Crociere, proprietária da embarcação, também foram acusados.
"Isto se transformou em uma batalha entre o comandante e a companhia de navegação Costa Crociere", considerou o La Repubblica, ao lembrar que o capitão foi demitido em julho.
A defesa de Schettino "vai evidenciar os erros" da empresa, com um documento que indica pelo menos 200 pontos, adiantou.
Já a companhia indica que seguiu as normas de segurança e reiterou em um comunicado que o comandante do barco é o responsável pela embarcação e que tem o dever de informar a capitania dos portos sobre o ocorrido e que isso "não corresponde à unidade de crise nem, em geral, à empresa", um dos maiores pontos de discordância.
A batalha legal acaba de começar e é possível que sejam convocados para Grosseto diversos especialistas, almirantes da Marinha e até simples camareiros do chamado "Titanic do século XXI".