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Arquivos da perversão dos escoteiros dos EUA expõem décadas de pedofilia

Agência France-Presse
postado em 18/10/2012 19:56
Los Angeles - Os escoteiros dos Estados Unidos conheciam e acobertavam milhares de casos de abuso sexual cometidos por seus guias em gerações de pequenos exploradores, disseram advogados das vítimas nesta quinta-feira (18/10) durante a divulgação online dos "arquivos da perversão" da organização.

Ao revelar detalhes das 14,5 mil páginas de documentos sobre mais de 1,2 mil pedófilos, os advogados disseram que a Boy Scouts of America (BSA) ainda não fizeram o suficiente para se livrar dos agressores sexuais que usam a organização de jovens exploradores para abusar de crianças.

Os arquivos haviam sido usados como evidência em um caso judicial em 2010, mas a BSA haviam conseguido mantê-los fora do alcance da opinião pública até esta quinta-feira, quando os advogados os publicaram em www.kellyclarkattorney.com após uma ordem da Corte Suprema do Oregon (noroeste).

Os documentos, que incluem notas manuscritas e trocas de mensagens entre executivos da BSA, apresentam supostos detalhes de abusos sexuais cometidos entre 1965 e 1985 por mais de 1,2 mil líderes e por outros adultos que faziam parte dos ;Boy Scouts;.

O registro era mantido como uma espécie de "lista negra" de pessoas indesejáveis para os escoteiros, mas os casos não foram relatados à justiça para proteger o prestígio da organização centenária.

Em resposta à divulgação dos arquivos, o chefe da organização pediu desculpas às vítimas e admitiu que as ações da BSA contra a pedofilia tinham sido "insuficientes, inapropriadas ou equivocadas".

"O que estes arquivos representam é (...) a dor e a angústia de milhares" de escoteiros, disse o advogado Paul Mones em uma entrevista coletiva à imprensa. Em média, cada pedófilo abusou de 5 a 25 escoteiros, o que faz com que o número de vítimas seja muito maior do que o de agressores.

"Sabemos que são milhares, mas a maioria destas vítimas nunca será revelada", acrescentou Mones. O líder da Boy Scouts of America, Wayne Perry, reiterou seu apoio às vítimas ao divulgar os arquivos.

"Em algumas ocasiões, as pessoas abusaram de sua posição (...) para maltratar as crianças e, em alguns casos, nossa resposta a esses incidentes e nossos esforços para proteger os jovens foram insuficientes, inapropriados ou equivocados", indicou em um comunicado.

"Estendemos as nossas mais profundas e honestas desculpas às vítimas e suas famílias", acrescentou. Mas o advogado ressaltou que a organização ainda não fez o suficiente. "Sabemos que os Boy Scouts realizaram alguns progressos, mas ainda têm muito o que fazer", disse Mones.

"O que queremos é que as organizações entendam como atuam os pedófilos (e) como conseguem se infiltrar em organizações de jovens", ressaltou.

Os documentos, ao qual a organização se refere como "Arquivo de voluntários ineligíveis dos Boy Scouts", são classificados como "arquivos da perversão" pelos advogados e pela imprensa.



Embora nesta quinta-feira (18/10) tenham sido publicados os documentos que registram duas décadas de abusos, os advogados disseram que a BSA começou a montar este arquivo nos anos 1920. A seção publicada foi usada como evidência em um caso levado à corte em 2010, segundo o qual um guia escoteiro de uma tropa mórmon abusou sexualmente do jovem Kerry Lewis na década de 1980.

Como foi revelado no julgamento, o homem havia confessado anteriormente à polícia o abuso de outras 17 crianças do grupo, mas não foram feitas acusações contra ele e a BSA permitiu que voltasse a atuar como guia poucos meses depois. Foi então que ele abusou de Lewis.

Integrantes da organização dos escoteiros disseram ao Los Angeles Times no mês passado que, em muitos casos, a organização acobertou as denúncias para poupar as jovens vítimas do constrangimento. Em julho, os escoteiros americanos reafirmaram a sua rejeição em aceitar membros abertamente gays entre seus líderes.

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