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Trégua entre Exército e rebeldes na Síria termina depois de algumas horas

Agência France-Presse
postado em 26/10/2012 17:07
Damasco - A trégua instaurada nesta sexta-feira (26/10) pela manhã na Síria em ocasião do Eid al-Adha foi para os ares após algumas horas, principalmente com um atentado em Damasco e um anúncio do Exército de que responde aos ataques rebeldes.

A pedido do mediador internacional Lakhdar Brahimi, Exército e rebeldes prometeram na quinta-feira (25) respeitar a trégua durante os quatro dias do Eid al-Adha, a festa muçulmana do sacrifício, mas cada parte havia se reservado o direito de resposta.

Ao menos 61 pessoas - 21 civis, 27 soldados e 13 rebeldes - morreram em todo o país, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

Em um comunicado lido na televisão estatal, o Exército anunciou durante a tarde que responde às "violações" cometidas por "grupos armados" em Deir Ezzor (leste), Deraa (sul), Idleb (noroeste) e na província de Damasco. "Grupos terroristas armados atacaram posições militares, violando claramente a trégua das operações militares assumida pelo comando do Exército. Nossas valorosas forças armadas respondem a essas violações", afirma o texto.

Na terminologia oficial das autoridades sírias, a palavra "terroristas" é utilizada para designar os rebeldes.

[SAIBAMAIS]No episódio mais violento do dia, a televisão síria e o OSDH anunciaram que um atentado com carro-bomba havia deixado cinco mortos e 30 feridos no bairro de Daf Chawk, ao sul de Damasco.

No sul do país, pelo menos 11 soldados ficaram feridos na explosão de um carro-bomba na cidade de Deraa, segundo o OSDH.

A Frente al-Nusra, um grupo jihadista rebelde que reivindicou a maioria dos atentados nos últimos meses, havia rejeitado categoricamente a ideia de um cessar-fogo.

Na manhã desta sexta-feira (26), apesar dos combates e bombardeios em várias partes do país, a violência parece ter perdido intensidade.

Os combates se concentram nos arredores da base militar de Wadi Deif, perto de Maaret al-Nooman (noroeste), onde 10 soldados e quatro rebeldes morreram em um ataque realizado por combatentes da Frente al-Nusra, de acordo com a mesma fonte.

O Exército respondeu bombardeando a aldeia vizinha de Deir Charqui. Combates também foram relatados em Damasco, Homs (centro) e Aleppo (norte), informou o OSDH.

No dia 12 de abril, um cessar-fogo proclamado por iniciativa de Kofi Annan, antecessor de Brahimi, havia sido aceito pelas duas partes em conflito. Mas o acordo durou apenas algumas horas, mesmo que os combates tenham perdido intensidade por algum tempo.

Quinta-feira (25), a ONU desejou "de todo coração" que a trégua seja respeitada, segundo declarações de um porta-voz.

A televisão estatal exibiu imagens do presidente Bashar al-Assad chegando sorridente e descontraído em uma mesquita de Damasco para as preces de sexta-feira, imagens contrastantes com o conflito que causou mais de 35.000 mortes desde março de 2011.

Como a cada sexta-feira, militantes contrários ao regime protestaram em Damasco e por todo o país, segundo o OSDH e ativistas.

Na província de Idleb (noroeste), manifestantes protestaram sob os gritos de Assad: "Traidor, covarde, você destruiu a Síria".



O OSDH registrou protestos em Raqa, onde as forças de segurança usaram bombas de gás lacrimogêneo, e na província de Deraa (sul), principalmente em Inkhel, onde três pessoas ficaram feridas por tiros.

Em Aleppo, segundo habitantes e uma fonte militar, rebeldes tentaram tomar o controle de uma posição militar no bairro de Syrian, mas foram repelidos. Eles dispararam dois morteiros, um deles atingiu um edifício e o segundo caiu próximo a um hospital francês, controlado pelo Exército.

Nesta grande cidade do norte, onde a multidão normalmente se apressaria para ir aos mercados, restaurantes e lojas no primeiro dia do Eid al-Adha, as ruas estão desertas, segundo um jornalista da AFP.

"Embora eu não tenha ouvido tiros nesta manhã, nada nos dá a sensação de que é festa", declarou Hany, 35, dono de um restaurante no bairro central de Aziziya, que não registrou uma única reserva para o dia.

Na região de Damasco, um morador do campo de refugiados palestino de Yarmouk, afirmou ter ouvido tiros vindos do exterior, mas não conseguiu determinar a origem.

As vias que ligam Damasco a seus subúrbios foram cortadas e apenas os militares foram autorizados a passar, indicou um motorista de táxi.

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