Rodrigo Craveiro
postado em 29/10/2012 08:40
Encarar tabus de uma forma liberal e progressista, sem esquecer de reparar os erros do passado. Com pouco mais de 3,3 milhões de habitantes e um líder que não trocou sua chácara pelos aposentos do Palácio Estevez, o Uruguai deu uma prova de que transita pela vanguarda das políticas de saúde pública. Em 17 de outubro, o Senado aprovou, por 17 votos a favor e 14 contra, um projeto de lei que despenaliza o aborto nas 12 primeiras semanas de gestação. Seis dias depois, o presidente José ;Pepe; Mujica sancionou o texto, transformando-o em lei. O ex-guerrilheiro que se tornou chefe de Estado já havia acenado com o apoio de um tema não menos polêmico: a legalização do cultivo e da venda da maconha ; uma medida, segundo Mujica, para impedir que as pessoas fiquem nas mãos do narcotráfico.
De acordo com Daniel Chasquetti, cientista político da Universidad de la República (Montevidéu), Mujica alia pragmatismo e realismo. ;Ele sabe que tem apenas uma oportunidade, pois no Uruguai a reeleição imediata está proibida. Por isso, tenta desenvolver algumas políticas sem considerar o custo pessoal delas. No futuro, a história o reconhecerá como um presidente inovador e sincero;, acredita. O especialista lembra que a despenalização do aborto foi contemplada pelas últimas três legislaturas. Em 2003, a ameaça de veto pelo então presidente Jorge Batlle frustrou a aprovação no Parlamento. Cinco anos depois, um projeto mais amplo passou pelo Senado, mas não foi sancionado pelo presidente Tabaré Vázquez, que vetou todos os artigos vinculados ao aborto.