Kiev - A OSCE condenou um retrocesso da democracia na Ucrânia e criticou as eleições legislativas de domingo no país, que, segundo resultados parciais, são lideradas pelo partido do governo, seguido pela aliança ligada à ex-primeira-ministra Yulia Timoshenko, mantida na prisão, que iniciou uma greve de fome para denunciar "fraudes".
"Levando-se em consideração os abusos de poder e o papel excessivo do dinheiro nestas eleições, parece que os progressos democráticos observados retrocedem na Ucrânia", declarou uma representante da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE), Walburga Habsburg Douglas, em um comunicado.
A Ucrânia elegeu domingo (28/10)os 450 deputados de seu parlamento unicameral após uma campanha marcada pela ausência de Timoshenko, presa desde agosto de 2011 e condenada a sete anos de prisão.
Timoshenko iniciou uma greve de fome para protestar contra o que considera uma "fraude nas eleições" legislativas de domingo na Ucrânia, anunciou nesta segunda-feira (29/10) seu advogado, o deputado Sergei Vlasenko.
"Estas legislativas foram fraudadas do início ao fim", indicou Timoshenko em uma declaração lida por Vlasenko na saída do hospital de Jarkiv (leste), onde ela é tratada de uma hérnia de disco.
A opositora informou às autoridades penitenciárias que havia parado de se alimentar e bebia apenas água, segundo a mesma fonte.
Timoshenko já havia feito uma greve de fome de três semanas na primavera (hemisfério norte) para protestar contra agressões que afirma ter sofrido.
Os resultados oficiais, após a apuração de 70% dos votos, para os assentos distribuídos de acordo com um sistema proporcional (225 de um total de 450), dão 33,27% dos votos ao Partido das Regiões (no poder), 23% para a aliança opositora Batkivshina e 14% para os comunistas.
O partido opositor Udar, do famoso boxeador Vitali Klitschko, conseguiu 13% e o nacionalista Svoboda (Libertad), 9%.
O partido do jogador de futebol Andrei Shevchenko ficou com apenas 1,7% dos votos, distante dos 5% necessários para entrar no Parlamento, segundo dados da comissão eleitoral central.
Os dados disponíveis não permitem determinar com exatidão no momento se o partido governante conquistará a maioria no novo parlamento.
[SAIBAMAIS] A outra metade dos 450 deputados é eleita por maioria uninominal. Com este sistema, o Partido das Regiões tem chances de conseguir 115 assentos e de atrair outros 25 deputados independentes e representantes de pequenos partidos, explicam especialistas.
"Parece que os resultados definitivos da votação serão divulgado amanhã no fim da tarde. Estamos convencidos de que manteremos o resultado que temos agora (...) o que significa que o Partido das Regiões conquistará uma vitória esmagadora", declarou nesta segunda-feira o primeiro-ministro Mykola Azarov, citado pela Interfax.
Partido de boxeador e nacionalistas entram no parlamento
Antes das eleições, Batkivshina, Udar e Svoboda se comprometeram a cooperar com a nova assembleia, mas até o momento não foi anunciada uma aliança formal.
De acordo com os resultados preliminares da votação por sistema proporcional, esses partidos somam juntos mais votos do que o Partido das Regiões e seus aliados comunistas.
Mas alguns especialistas consideram que o partido no governo conseguirá formar maioria, principalmente, recrutando deputados eleitos por votação majoritária.
O Ocidente acompanhou atentamente estas eleições, as primeiras desde a chegada ao poder em 2010 do presidente Viktor Yanukovich, já que há fortes preocupações com um retrocesso da democracia na Ucrânia, sobretudo depois da prisão de Timoshenko, em 2011.