Damasco - A aviação síria bombardeou nesta quarta-feira (31/10) os subúrbios orientais de Damasco, reduto dos rebeldes, em um confronto de quase 20 meses e que provocou mais de 36 mil mortes, em sua maioria civis.
Das 36 mil vítimas fatais registradas desde o início da rebelião, em 15 de março de 2011, 25.667 eram civis, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), que também considera civis os que pegaram em armas para combater as tropas do regime de Bashar al-Assad.
O número de soldados mortos chega a 9.044 e o de desertores a 1.296, segundo a ONG com sede na Grã-Bretanha, que tem uma ampla rede de militantes e de fontes médicas em todo o país.
Ao mesmo tempo, o mediador internacional Lakhdar Brahimi afirmou em Pequim que espera "um papel ativo da China", aliado de Assad, para encontrar uma solução à crise.
A brutal repressão pelo regime da rebelião terminou por militarizar o conflito.
A aviação síria bombardeou nesta quarta-feira subúrbios ao leste de Damasco onde estavam entrincheirados grupos rebeldes, um dia depois do primeiro ataque aéreo contra um setor da capital, destacou o OSDH.
"Os aviões de guerra executaram cinco bombardeios contra áreas agrícolas próximas das cidades de Saqba e Duma", afirmou a ONG.
Os Comitês Locais de Coordenação (LCC), que reúnem militantes opositores, confirmaram os bombardeios contra Duma, que provocaram muitos danos.
Na terça-feira, segundo o OSDH, 30 civis, incluindo quatro mulheres e cinco crianças, assim como 13 rebeldes, morreram em bombardeios aéreos e em combates nos subúrbios da capital. Em todo o país morreram 182 pessoas, entre elas 95 civis.
Na província de Idleb (noroeste), soldados e rebeldes protagonizaram violentos combates depois que os insurgentes atacaram postos militares em Jisr al-Shughur.
Na mesma região, caças bombardearam Deir Sharqi, Maarshmisha e Maaret al-Numan, uma localidade estratégica entre Damasco a Aleppo.
Ao leste desta última cidade, os rebeldes e os combatentes jihadistas da Frente Al-Nusra tentavam tomar o controle da importante base militar de Wadi Daif.
Os combatentes desta Frente também atuam em Deir Ezzor (leste), onde o exército tenta recuperar bairros rebeldes. Outro reduto rebelde, a cidade de Mohasen, foi atacada.
Intensa atividade do emissário internacional
Depois de visitar Moscou, o emissário internacional da ONU foi recebido em Pequim pelo chanceler chinês Yang Jiechi, que elogiou os esforços de Brahimi para conter a violência na Síria.
Brahimi tenta convencer as autoridades chinesas a não vetar uma ação na Síria do Conselho de Segurança da ONU.
Moscou e Pequim vetaram três projetos de resolução ocidentais no Conselho de Segurança da ONU que condenavam a repressão exercida pelo regime sírio.
Ao mesmo tempo, a Rússia negocia com a Turquia para recuperar a carga confiscada por Ancara em um avião que viajava de Moscou a Damasco, mas não adotou até o momento nenhuma medida.
A Turquia interceptou em 10 de outubro um Airbus A-320 da Syrian Air, que voava sobre seu território, e o obrigou a fazer uma escala para controles de segurança.
A Rússia advertiu que o "banho de sangue" na Síria irá prosseguir se o Ocidente continuar preso em sua exigência de derrubar o presidente Bashar al-Assad.
"Se a posição dos nossos parceiros continuar sendo a saída deste líder que eles não gostam, o banho de sangue vai continuar", afirmou o ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, após uma reunião com o chanceler francês, Laurent Fabius.
Fabius também afirmou que França e Rússia não conseguiram superar suas divergências sobre o papel de Assad em um futuro governo de transição.
"Sim, há uma diferença de avaliação sobre a presença de Bashar al-Assad em um governo de transição", afirmou após a reunião dos chanceleres e ministros da Defesa francês e russo em Paris.
A secretárida de Estado dos Estados Unidos, por sua vez, afirmou que seu país quer ajudar a oposição síria a se unir e limitar o papel desempenhado apenas pelo Conselho Nacional Sírio (CNS).
[SAIBAMAIS] "Há informações preocupantes sobre extremistas que vão para a Síria tentar desviar para seus próprios fins o que até então era uma revolução legítima contra o regime opressor", explicou Clinton, e por isso os Estados Unidos querem "ajudar a oposição a se unir para resistir ao regime Assad", declarou à imprensa.
"O CNS já não pode ser percebido como o único líder visível da oposição. Pode ser um partido de oposição, mas a oposição deve incluir pessoas no interior da Síria e no exterior", afirmou ainda, acrescentando que uma ampla coalizão da oposição precisa de uma estrutura dirigente dedicada a representar e proteger os sírios.
As declarações de Hillary acontecem depois que, na quarta, vários grupos da oposição síria na Turquia, incluindo o CNS, pediram a formação rápida de um governo no exílio para meolhorar sua representação e principalmente obter um maior apoio da comunidade internacional.