Agência France-Presse
postado em 05/11/2012 17:27
Bruxelas - A Espanha, preocupada em ficar à margem das instituições europeias, impediu, nesta segunda-feira (5/11), a nomeação do luxemburguês Yves Mersch à diretoria do Banco Central Europeu (BCE), cuja candidatura já foi rejeitada pela Eurocâmara diante da ausência total de mulheres no organismo.A Espanha "impediu a nomeação (do luxemburguês Yves) Mersch, já que considera que este assunto deve ser debatido no Conselho Europeu", explicou uma fonte diplomática.
"Consideramos que deve haver um debate mais amplo" durante a cúpula europeia de chefes de Estado e de Governo, acrescentou.
Contudo, uma fonte europeia esclareceu que a Espanha "não está contente com a forma como foi realizado o procedimento" para nomeação de Mersch.
"Não foi uma discussão aberta, foi pouco transparente", disse a fonte, que confirmou que foi uma decisão amarga para o governo de Mariano Rajoy, que ficou sem um posto na diretoria do BCE, até agora sempre ocupado por seu país.
Tradicionalmente, considerava-se que as quatro grandes economias da zona do euro (Alemanha, França, Itália e Espanha) deviam estar sempre representadas no Comitê Executivo do BCE.
Este era um posto que até agora "estava ocupado por um espanhol, a quarta economia da zona do euro", disse a fonte europeia.
O governo espanhol tinha proposto como candidato Antonio Sáinz de Vicuña, diretor de serviços jurídicos do BCE, em substituição ao também espanhol José Manuel González-Páramo, que deixou a diretoria da instituição monetária em maio.
A nomeação de Mersch foi rejeitada no dia 25 de outubro pelo plenário do Parlamento Europeu (PE) em uma decisão não vinculante, em protesto por não ter sido considerada uma mulher para a diretoria da instituição com sede em Frankfurt.
Ainda assim, o presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, decidiu levar a nomeação do luxemburguês adiante, mediante um procedimento escrito, mas que necessitava do aval dos 17 membros da zona do euro. A nomeação devia ser oficializada nesta segunda-feira.
"Este procedimento foi impedido por pelo menos um membro, a Espanha, suficiente para interrompê-lo", anunciou a deputada liberal Sylvie Goulard. "Nos alegramos desta decisão, que reafirma a democracia", acrescentou.
Esse não foi o único posto que a Espanha perdeu este ano: o país também apostava na candidata Belén Romana García, ex-diretora geral do Tesouro, para a presidência do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE). Contudo, esse posto ficou com o alemão Klaus Regling.
Mergulhada em recessão, a Espanha se encontra sob pressão dos mercados para pedir um resgate financeiro de seus sócios da zona do euro, o que ativaria o programa de compra de bônus soberanos do BCE nos mercados secundários.
O governo empreendeu uma corrida pela redução do déficit para reduzi-lo de 9,4% do PIB em 2011 a 2,8% em 2014. Para isso, pôs em prática um programa de austeridade para recuperar 150 bilhões de euros.
Nesse contexto, ocupar um alto cargo nas esferas europeias é importante. A nomeação para a diretoria do BCE deverá ser decida na próxima cúpula de chefes de Estado e de Governo europeus. As próximas datas são 22 e 23 de novembro e 13 e 14 de dezembro.
Mersch, de 63 anos, atual presidente do Banco Central de Luxemburgo, foi o candidato proposto pelos ministros das Finanças da União Europeia (UE) em uma reunião em julho.
Sua nomeação, contudo, gerou forte polêmica de imediato, já que as mulheres estavam ausentes do Conselho de Governadores.