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David Cameron declara ser a favor de uma saída segura do presidente Assad

Agência France-Presse
postado em 06/11/2012 13:18
DAMASCO- O primeiro-ministro britânico David Cameron declarou ser a favor de uma saída segura do presidente Bashar al-Assad da Síria, se isso pôr fim ao derramamento de sangue, enquanto a violência aumenta com a intensificação dos atentados e ataques, que nesta terça-feira deixou mais de 40 mortos, inclusive o irmão do líder do Parlamento sírio.

"Certamente, eu não ofereço a ele um plano de saída na Grã-Bretanha, mas se ele quiser partir, pode partir, isso pode ser arranjado", declarou Cameron ao canal saudita Al-Arabiya. "Eu sou favorável a tudo para vê-lo deixar o país e ver uma transição segura na Síria", acrescentou.

Uma grande parte da oposição síria, atualmente reunida em Doha para se reestruturar, estipula como condição prévia para qualquer negociação a saída de Assad, que se recusa categoricamente a considerar essa opção e que já declarou várias vezes estar determinado a esmagar a rebelião.

De fato, as suas Forças Armadas, cuja aviação tem total controle dos céus contra rebeldes equipados com armas de pequeno porte, parecem determinadas a aproveitar desta força, multiplicando ataques aéreos particularmente mortais.

Homens a bordo de helicópteros, que até então disparavam com metralhadoras pesadas, agora lançam em áreas residenciais barris cheios de explosivos. E a movimentação de seus caças-bombardeiros acelerou, especialmente no noroeste, onde um deles matou na segunda-feira 22 civis na aldeia de Kafr Nabal, de acordo com uma ONG síria.

"Somalização da Síria"

Os rebeldes, por sua vez, apoiados por grupos islâmicos, incluindo a Frente al-Nosra, que teve uma ascensão meteórica na Síria, infligiram pesadas perdas às forças do regime recorrendo a atentados.

A explosão de um carro-bomba conduzido por um membro da organização Al-Nosra matou pelo menos 50 combatentes pró-regime na segunda-feira no centro do país, enquanto outro atentado, ainda não reivindicado, causou a morte de 13 civis em Damasco, de acordo com Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

Na segunda-feira (5/11), segundo o OSDH, cerca de 250 pessoas foram mortas em todo o país, incluindo uma centena de membros das forças pró-regime.

"Algumas pessoas falam sobre o perigo de ver a Síria dividida (...) Eu acho que o verdadeiro perigo não é divisão, mas a ;somalização;, com um colapso do Estado e o surgimento de milícias e grupos armados" , considerou o mediador internacional Lakhdar Brahimi, em uma entrevista ao jornal pan-árabe Al-Hayat nesta terça-feira.

Já o ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, indicou que os rebeldes haviam "recebido 50 mísseis Stinger do exterior para derrubar aviões de combate" do regime.

Atentados e ataques aéreos em Damasco

A violência fez mais 41 mortos nesta terça-feira. Metade das vítimas eram civis, de acordo com uma avaliação preliminar do OSDH, que se baseia em uma rede de ativistas e médicos dos hospitais civis e militares. Em quase 20 meses, mais de 36.000 pessoas foram mortas na Síria, segundo contagens do OSDH.

A explosão de um carro-bomba em Mouadamiya deixou pessoas feridas perto de Damasco, enquanto outro atentado no subúrbio de Sayeda Zeinab causou danos materiais. Estes ataques ainda não foram reivindicados.

Damasco, ofuscada por um tempo pela abertura da frente de Aleppo (norte) em julho, agora voltou a ser o centro dos combates. No sul da capital, o irmão do líder do Parlamento, Jihad al-Laham, foi morto por "terroristas" em Midane, segundo a televisão estatal.

De acordo com analistas, o regime reduziu suas ambições territoriais para se concentrar em Damasco, o centro e a região alauíta (noroeste), para manter essas posições e ter uma carta nas mãos, em caso de negociações.

A oposição planeja sua reestruturação

No Qatar, o Conselho Nacional Sírio (CNS), a principal coalizão de oposição, examina a criação de uma nova liderança política, uma proposta feita por um de seus veteranos, Riad Seif. Em uma tentativa de recuperar a iniciativa, o CNS anunciou a extensão para 13 novos grupos de oposição, em resposta às críticas vindas da Síria e de outros países que acusam a coalizão de falta de representatividade.

Seu presidente, Abdel Basset Seyda, advertiu que "se os massacres brutais do regime continuarem, e se a comunidade internacional persistir em sua atitude negativa e incompreensível", poderia incentivar "correntes extremistas". Enquanto isso, os opositores devem se reunir na quinta-feira, após convocação da Liga Árabe e do Qatar, para decidir sobre a iniciativa de Seif.

Este ex-deputado no exílio quer assim "evitar um vácuo político no momento da queda do regime de Assad" e "assegurar o reconhecimento internacional."

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