Agência France-Presse
postado em 09/11/2012 16:27
Buenos Aires - A presidente argentina, Cristina Kirchner, atravessa um dos momentos mais difíceis desde a sua chegada ao poder, com uma nova manifestação em massa que ilustra a sua perda de apoio de parte da classe média."Sim à democracia, não à reeleição", gritavam ontem à noite milhares de manifestantes nas ruas das principais cidades do país, entre elas Rosário (centro-leste), Córdoba (centro), Mendoza e Bariloche (oeste), denunciando também a insegurança e a corrupção.
"A presidente está perdendo o apoio de uma parte da classe média que votou nela há um ano", considerou a analista política Graciela Romer. Havia muitas mulheres e jovens", observou o analista Jorge Giacobbe. "Este é um movimento heterogêneo, cuja base social foi ampliada em comparação com o de 13 de setembro", acrescentou, lembrando um protesto anterior.
Os manifestantes rejeitaram a possibilidade de um terceiro mandato de Kirchner, que não está previsto pela Constituição argentina. A presidente foi eleita pela primeira vez em 2007 e reeleita em outubro de 2011.
O governo possui maioria no Congresso, mas não os dois terços de votos necessários para alterar a Constituição. Eleições legislativas devem ser realizadas em outubro de 2013 na Argentina. A ideia de uma segunda reeleição foi lançada, de acordo com alguns analistas, a fim de reafirmar o poder de uma presidente cada vez mais questionada.
Outros acreditam que há um núcleo no gabinete de Cristina que se apega à sua reeleição como a única forma de permanecer no poder, já que a presidente não tem um sucessor. Mais de 80% da população, no entanto, rejeita a iniciativa, de acordo com o Instituto Management & Fit.
"O estilo presidencial é rejeitado", disse Graciela Romer, referindo-se às críticas dos manifestantes relativas ao "desprezo" ou ao "autoritarismo" apresentados por Kirchner. Mas as políticas públicas também não estão a salvo de críticas.
Os manifestantes também acusam a presidente de "mentir" sobre a inflação. O Fundo Monetário Internacional alertou em setembro que apresentará "cartão vermelho", caso a Argentina não retifique sua medida de inflação.
Em 2011, a Argentina declarou uma inflação a 9,5%, mas os institutos privados a estimam em 23% ou 25%. Estes protestos ocorrem no momento em que o crescimento da economia argentina passou de 9% em 2011 - ano em que Kirchner se reelegeu com 54% dos votos - para 2,2% este ano, segundo previsões do Banco Mundial.
Além disso, o governo impôs controles estritos sobre o mercado de câmbio, o que limitou a circulação de moeda estrangeira para lutar contra a fuga de capitais e lidar com os vencimentos da dívida. O país é agora obrigado a manter a sua moeda, porque não tem acesso a linhas de crédito internacionais, devido ao seu histórico default de 2001 de mais 100 bilhões de dólares de dívida.
Estas medidas tornam a vida difícil para os argentinos, que veem o dólar como um refúgio seguro contra a inflação. A popularidade de Kirchner está caindo. "Sua imagem positiva é de 34% contra 60% na semana de sua reeleição", disse Jorge Giaccobe.
"Há também a saturação de um ciclo de dez anos", acrescentou. O marido de Kirchner, Néstor Kirchner, que morreu em 2010, chegou ao poder em 2003. "É o alarme de emergência", afirma Graciela Romer.
Contudo, a presidenta não deve ceder em nada, declarou o analista Rosendo Fraga, explicando: "é uma característica essencial de sua ação política".