Damasco - Bombardeios e violentos combates eram registrados nesta sexta-feira (9/11) principalmente na fronteira turca obrigando em 24 horas 11.000 sírios a fugir do conflito que assola seu país há cerca de 20 meses.
O presidente Bashar al-Assad afirmou que trava uma "guerra contra o terrorismo" e defendeu uma solução pelas urnas, em uma entrevista concedida a uma rede de televisão russa.
No lado da oposição, o Conselho Nacional de Transição (CNS) elegeu seu novo presidente em Doha, onde as formações opositoras se reorganizavam tendo em vista a formação de um governo e de um comando militar que representem uma alternativa de credibilidade ao regime.
Durante as últimas 24 horas, 11.000 sírios fugiram de seu país, incluindo 9.000 que se refugiaram na Turquia, segundo Panos Moumtzis, diretor do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados. Normalmente, cerca de 2.000 refugiados sírios são registrados por dia.
O número total de refugiados nos quatro países vizinhos da Síria (Turquia, Líbano, Jordânia e Iraque) chega a mais de 408.000, indicou.
Já o diretor da Agência da ONU para Ajuda Humanitária, John Ging, estimou que quatro milhões de sírios necessitarão de ajuda até o início de 2013, um número "acima dos 2,5 milhões (estimados até então)".
Os Estados Unidos anunciaram o envio de 165 milhões de dólares em ajuda humanitária à Síria e aos seus vizinhos para ajudá-los diante da chegada do inverno e levando em consideração a quantidade crescente de sírios deslocados ou refugiados.
Assad quer "morrer na Síria"
Em uma rara declaração, Assad disse que se prepara para "uma guerra difícil" e longa contra "todos esses países que enfrentam a Síria por procuração", citando o Ocidente e os países árabes. "Não se trata de uma guerra civil", insistiu, mas de uma "guerra contra o terrorismo".
Rejeitando qualquer ideia de exílio, Assad, com mandato até 2014, afirmou nesta entrevista concedida à Russia Today em Damasco que "são as urnas que dirão simplesmente" se ele deve "permanecer ou sair".
Como em todas as sextas-feiras, milhares de pessoas saíram às ruas, para pedir a queda do chefe de Estado, que também afirmou que viverá e morrerá na Síria.
"Bashar, que você morra na Síria, mas não será enterrado em seu solo, mas nas lixeiras da História", indicava uma faixa.
Na província de Idleb (noroeste), palco nas últimas semanas de ataques aéreos de uma violência até então não vista, manifestantes exibiam uma faixa com o lema: "Com suas balas você enviou nossos filhos ao paraíso, e nós, com nossos sapatos vamos te expulsar para o inferno".
Comparando sua ação à dos russos na Chechênia, Assad rejeitou as acusações internacionais de crime de guerra contra seu Exército. O regime se refere à oposição armada como "grupo de terroristas".
A guerra deixou desde março de 2011 mais de 37.000 mortos, segundo uma ONG síria.
Oposição se reúne sem o CNS
No Qatar, o CNS elegeu para o comando da principal coalizão opositora Georges Sabra, um veterano da oposição a Assad, ex-comunista de religião cristã.
Em uma primeira declaração ao final de sua eleição, este professor de 65 anos se comprometeu em nome do CNS a "trabalhar com os outros componentes da oposição síria, para acelerar a queda do regime do criminoso" Bashar al-Assad.
Consultado sobre se desejava obter da comunidade internacional, ele respondeu: "Nós temos apenas uma demanda, é o fim do banho de sangue e uma ajuda para que o povo sírio derrube este regime sanguinário nos armando". "Queremos armas", repetiu três vezes.
[SAIBAMAIS]Enquanto isso, diversos integrantes da oposição estavam reunidos sob os auspícios do Qatar e da Liga Árabe para debater um plano prevendo uma estrutura que os una com o objetivo de unificar a ação militar, de organizar a ajuda humanitária e de administrar as zonas que eles controlam.
No terreno, a região de Damasco foi atingida por um novo atentado com carro-bomba, que matou cinco civis, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
Há vários dias, os atentados se multiplicam em Damasco e em sua região.
Um jornalista da AFP ouviu violentos bombardeios nos subúrbios de Damasco, com o OSDH indicando ataques aéreos em Ghouta Oriental.
No nordeste curdo, 36 soldados e dez rebeldes morreram desde quinta-feira em combates nas imediações de Rass al-A;n, um dos dois últimos postos fronteiriços na fronteira com a Turquia ainda em poder do Exército.
Na zona tampão entre o setor sírio das Colinas de Golã e o ocupado por Israel, mais de 30 soldados e rebeldes morreram em uma semana nessa região oficialmente desmilitarizada, de acordo com o OSDH.
Segundo um registro provisório do OSDH, 114 pessoas morreram em episódios de violência nesta sexta-feira em todo o país, incluindo 53 soldados.