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Farc diz que negociações de paz de Havana avançam 'em bom ritmo'

Agência France-Presse
postado em 20/11/2012 15:32
Havana - A guerrilha das Farc declarou nesta terça-feira (20/11) que as negociações de paz com o governo da Colômbia avançam "em bom ritmo", no início do segundo dia de conversas em Havana, horas depois da entrada em vigor de um cessar-fogo unilateral por parte dos rebeldes.



Os delegados de ambas as partes chegaram ao segundo dia de negociações a portas fechadas pouco depois das 08h30 locais (11h30 de Brasília) em um salão do Palácio de Convenções de Havana, sem acesso à imprensa.

"Dissemos que estamos avançando em bom ritmo, pelo bom caminho, tentando fazer que a participação do povo seja total neste processo de construção da paz", declarou o comandante guerrilheiro Jesús Santrich, que está quase cego e entrou caminhando no Palácio com uma bengala e auxiliado por uma guerrilheira.

Os delegados do governo, liderados pelo ex-vice-presidente colombiano Humberto de la Calle, entraram apressadamente no edifício sem fazer declarações à imprensa.

A sessão de negociações desta terça-feira começou cerca de nove horas depois da entrada em vigor de um cessar-fogo unilateral da guerrilha, com dois meses de duração, anunciado na véspera pelo chefe da delegação das Farc, Iván Márquez.

O comandante rebelde disse que o cessar-fogo das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), que se prolongará até 20 de janeiro, "é uma contribuição destinada a fortalecer o clima de entendimento necessário para que as partes que iniciam o diálogo alcancem o propósito desejado por todos os colombianos".

Horas depois, o ministro da Defesa colombiano, Juan Carlos Pinzón, disse que as forças militares manteriam suas operações contra as Farc, o maior grupo guerrilheiro da Colômbia com cerca de 9.200 combatentes, ao reiterar algo que o presidente Juan Manuel Santos havia declarado anteriormente.

"Esta é uma postura muito clara que corresponde à Força Pública, seguir trabalhando para perseguir esses indivíduos que violaram todo tipo de código, de normas e que atentaram contra a vida e a honra dos colombianos", disse Pinzón.

"Espero que cumpram isto que prometeram, mas a realidade é que a história mostra que esta organização terrorista nunca cumpriu nada", afirmou.

O presidente Santos não se referiu ao anúncio das Farc em seu discurso da tarde de segunda-feira (19/11). O cessar-fogo decretado pelas Farc foi saudado pelo movimento civil Colombianos e Colombianas pela Paz, liderado pela ex-senadora Piedad Córdoba, que havia proposto publicamente que ambas as partes decretassem uma trégua.

Para favorecer o diálogo, as autoridades colombianas anularam diversas ordens de prisão contra os delegados das Farc, organização considerada "terrorista" por Estados Unidos e União Europeia.

Nenhum dos lados divulgou detalhes sobre os tópicos que foram discutidos nessas conversas, que numa primeira fase deve durar 10 dias para abordar a complexa questão agrária.

A concentração da propriedade no campo colombiano levou a um conflito armado que já dura quase meio século, e esta questão tem sido definida por Marquez como "a causa histórica do confronto de classes" no país.

No entanto, De la Calle adiantou no domingo, em sua chegada a Havana, que "aqui não será negociada a propriedade privada, nem o modelo de Estado, nem o modelo de desenvolvimento econômico", mas admitiu que, se não houver consenso sobre a questão agrária, o conflito "irá se perpetuar".

A agenda de negociações inclui quatro pontos: drogas ilícitas, participação política, abandono das armas e reparações para as vítimas.

Ambas as partes anunciaram em setembro que iriam iniciar o processo de paz, com Cuba e Noruega como fiadores e Venezuela e Chile como acompanhantes, para acabar com um conflito que causou 600 mil mortes, 15 mil desaparecidos e quase quatro milhões de deslocados.

O diálogo foi lançado oficialmente em 18 de outubro, em Oslo (Noruega), mas as discussões começaram na segunda-feira em Havana, com o objetivo de acabar com o conflito armado no qual também estão envolvidos o Exército de Libertação Nacional (ELN), gangues de criminosos e de tráfico de drogas.

O ELN, que tem cerca de 2.500 combatentes, anunciou há uma semana que planeja se juntar às negociações de paz.

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