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Ataque rebelde sírio provoca clima de guerra em bairros nobres de Damasco

Agência France-Presse
postado em 21/11/2012 13:52
Damasco - Os rebeldes sírios dispararam na terça-feira (21/11) pela primeira vez um morteiro contra o bairro das embaixadas de Damasco, semeando o pânico entre os moradores do centro da capital, que até o momento ouviam a guerra sem vê-la. Este disparo contra Abou Roummané, que tem um grande peso simbólico porque atinge um bairro que até agora vinha sendo poupado dos confrontos, ocorreu algumas horas antes de o ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius, ter negado qualquer violação por parte de Paris do embargo europeu sobre armas, em benefício da rebelião.

Segundo uma fonte oficial e o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), uma pessoa morreu e outras três ficaram feridas por este disparo contra o o bairro nobre de Abou Roummané, situado não muito distante dos gabinetes da Presidência, no nordeste de Damasco. O morteiro caiu em uma praça às 19h45 locais (15h45 de Brasília), afirmou um morador. O local, muito frequentado à noite, estava relativamente vazio no momento do ataque, de acordo com uma testemunha estrangeira presente em Damasco. "Você não pode imaginar o medo que me invadiu quando ouvi o barulho da explosão. Ninguém acreditava que isto pudesse acontecer neste bairro", disse um morador.

[SAIBAMAIS]Foi possível observar o impacto do morteiro perto de duas ambulâncias estacionadas no local, próximo ao sindicato dos médicos. As janelas de ambos os veículos ficaram estilhaçadas e a calçada foi danificada. "Após a explosão, um carro passou a toda velocidade com homens que atiravam indiscriminadamente, mas a rua estava vazia naquele momento", acrescentou o morador, que pediu para não ser identificado.



Uma pessoa que acompanhava a entrevista disse que "agora todos rezam antes de sair de casa, porque ninguém sabe se voltará", e afirmou sentir saudade da época da "segurança e da estabilidade" na Síria, assolada há mais de 20 meses por uma revolta popular que se tornou um conflito armado. "Há postos militares em todas as partes, mas isso não impede a queda de morteiros. Você tem a prova na sua frente", acrescentou. No dia seguinte ao disparo, o Exército instalou um novo posto de controle nos arredores da praça. Na terça-feira de manhã, dois morteiros atingiram o edifício do Ministério da Informação, no oeste de Damasco, sem deixar vítimas, segundo a agência oficial Sana.

Reconhecimento da coalizão por Londres


Enquanto a União Europeia não decide a respeito da suspensão do embargo de armas à Síria, o ministro francês das Relações Exteriores afirmou que Paris, na linha de frente no apoio à rebelião, não viola este bloqueio em vigor desde maio de 2011. "Se fornecemos ou não armas ou se violamos o embargo, a resposta é não", afirmou Laurent Fabius. No âmbito diplomático, a nova coalizão opositora síria obteve uma nova conquista. Londres a reconheceu como "a única representante legítima do povo sírio", como já haviam feito Ancara, Roma, as monarquias do Golfo e a França.

O chefe da diplomacia britânica, William Hague, considerou que "é do interesse da Síria, da região e do Reino Unido apoiar (a Coalizão) e que não se deixe espaço para os grupos extremistas", acrescentando que havia pedido que oposição nomeasse um representante no Reino Unido. O líder do Conselho Nacional Sírio (CNS, oposição), Georges Sabra, afirmou que a Síria necessitará de uma ajuda de cerca de 60 bilhões de dólares após a queda do regime de Bashar al-Assad para evitar a quebra do país. Mas após 20 meses de violência, nenhum lado parece estar com a vantagem. Nesta quarta-feira, a artilharia do regime retomou os bombardeios aos bairros do sul de Damasco.

Enquanto isso, o Exército bombardeava a cidade de Daraya, da qual tenta retomar o controle, e a região de Ghouta Oriental, principal base de retaguarda dos rebeldes que tentam entrar em Damasco, segundo o OSDH. O Exército também conseguiu rechaçar um ataque rebelde à base militar de Cheij Souleiman, cerca de 25 km a noroeste de Aleppo, matando pelo menos 25 insurgentes na operação, de acordo com o OSDH. Na terça-feira, 117 pessoas morreram vítimas da violência, segundo o OSDH, que contabilizou mais de 39.000 mortos desde o início do conflito, em março de 2011.

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