Agência France-Presse
postado em 21/11/2012 15:49
Londres - A rejeição à ordenação de bispas por parte de uma minoria tradicionalista destacou as profundas diferenças existentes na Igreja Anglicana inglesa e impôs um grande obstáculo para aqueles que lideram os esforços para adaptá-la à realidade atual.A reforma, respaldada por bispos e clérigos, não conseguiu a maioria de dois terços entre os laicos, o terceiro grupo que compõe o Sínodo Geral da Igreja mãe da Comunhão Anglicana na votação realizada na terça-feira (20/11), após anos de debates sobre essa questão, cujo princípio foi aprovado em 2008. O Arcebispo de Canterbury, Rowan Williams, que fez campanha a favor da ordenação episcopal feminina antes de abandonar o cargo de primado no mês que vem, considerou nesta quarta-feira (21/11) que a Igreja "perdeu certa credibilidade" entre a sociedade com essa votação.
"Seja qual for a motivação do voto de ontem, seja qual for o princípio teológico pelo qual as pessoas agiram e falaram, o fato é que grande parte dessa discussão não é compreensível para a sociedade em geral", disse perante o Sínodo. "Pior ainda, parece que nos cegamos deliberadamente a algumas das tendências e prioridades dessa sociedade. Temos que dar explicações, temos como consequência de ontem ter perdido certa credibilidade em nossa sociedade", acrescentou.
A Igreja Anglicana da Inglaterra, assim como todas as outras igrejas do mundo ocidental a sofre com a perda de fiéis, e, ainda que reivindique um número de 26 milhões de batizados, avalia que haja apenas 1,7 milhões de praticantes. A rejeição daquele que um dia já fez a maior reforma na Igreja Anglicana desde a ordenação de mulheres sacerdotisas em 1992 também é um golpe para seu sucessor, o bispo de Durham, Justin Welby, outro partidário dessa evolução, que não alcançou um número suficiente de eleitores, em particular no setor mais tradicionalista.
"O ministério das mulheres sacerdotisas foi poderoso em todas as áreas da Igreja, exceto como parte do episcopado", declarou em seu discurso antes da votação. "Chegou a hora de terminar o trabalho". No entanto, 122 membros do conselho legislativo -três bispos, 45 clérigos e os 74 laicos- votaram contra a reforma, apesar da aprovação de 42 das 44 dioceses da Igreja.
Para os grupos conservadores anglo-católicos e evangélicos, a rejeição foi uma "boa notícia". "Evitamos o que teria sido um erro desastroso para a unidade", declarou o reverendo Rod Thomas, presidente do grupo evangélico Reform.
A imprensa classificou o resultado como "fracasso" e o primeiro-ministro David Cameron se declarou "muito triste" que a Igreja tenha fechado as portas do episcopado para as mulheres, que representam um terço do clero anglicano na Inglaterra e quase a metade entre os que buscam a ordenação sacerdotal.
"Acredito que seja importante que a Igreja Anglicana seja uma igreja moderna, em contato com a sociedade como é hoje, e este era um passo que tinha que dar", declarou diante dos deputados na Câmara dos Comuns. As 3.600 mulheres sacerdotes da Igreja Anglicana devem esperar pelo menos mais alguns anos para seguir os passos de algumas de suas companheiras em outras das 44 igrejas que integram a Comunhão Anglicana, que reivindica 85 milhões de fiéis em 165 países.
Atualmente, há 37 ;bispas; anglicanas no mundo, a última tendo sido ordenada no fim de semana passado na Suazilândia.