Agência France-Presse
postado em 23/11/2012 20:08
Damasco - Damasco e seus dois principais aliados russo e iraniano condenaram duramente nesta sexta-feira (23/11) uma eventual instalação de mísseis Patriot na Turquia perto do território sírio, mas a Otan garantiu que se trata de uma medida "unicamente defensiva".Em visita a Damasco, o presidente do Parlamento iraniano, Ali Larijani, alertou a oposição síria, assim como Qatar e Arábia Saudita, para qualquer ação "aventureira" na Síria, onde os rebeldes islamitas e combatentes curdos se preparavam para uma guerra aberta no norte do país.
Reagindo pela primeira vez ao pedido turco feito à Otan para que a organização desloque mísseis Patriot, Damasco considerou que Ancara é responsável "pela militarização da situação na fronteira", acusando seu vizinho "de armar, treinar e infiltrar milhares de terroristas" em seu território.
Esse deslocamento de mísseis também suscitou o descontentamento da Rússia. "Quanto mais armas acumulamos, maior o risco de elas serem utilizadas", considerou o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov.
O Irã seguiu no mesmo sentido. "Esta ajuda não resolve a situação na Síria, mas só a agrava ainda mais", declarou o porta-voz do Ministério iraniano das Relações Exteriores, Ramon Mehmanparast.
"A insistência (de alguns países ocidentais e árabes, nr) em resolver a crise síria pela via militar é a principal causa das tensões e das ameaças na região", acrescentou.
Frente a essas críticas, a Otan tentou acalmar os ânimos. Seu secretário-geral, Anders Fogh Rasmussen, afirmou em uma conversa por telefone a Lavrov que o deslocamento não é "de forma alguma uma maneira de promover uma zona de exclusão aérea ou operações ofensivas".
O presidente Bashar al-Assad se disse novamente determinado a vencer o "terrorismo", forma pela qual designa a rebelião, e a resolver a crise por meio de um "diálogo nacional", rejeitado pela oposição que impõe a sua saída como condição fundamental, no momento em que milhares de sírios protestavam para exigir a sua queda.
Guerra entre rebeldes e curdos
Pedindo negociações, Larijani referiu-se sem dar nomes ao Qatar, à Turquia e à Arábia Saudita, principais aliados e financiadores da oposição.
"Alguns querem armas para instaurar a democracia na Síria. Eu não acredito que possamos instaurar a democracia com RPG (lança-foguetes). O Irã defende um diálogo político por uma solução política. Somos contra qualquer tipo de intervenção militar na Síria", acrescentou no Líbano Larijani, que também deve ir à Turquia.
No campo de batalha, os bombardeios e combates foram mantidos, principalmente na província de Damasco. A violência deixou nesta sexta-feira, de acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), pelo menos 46 mortos, sendo 15 civis, 13 soldados e 18 rebeldes.
No nordeste, os principais movimentos curdos vão formar uma force militar unida para enfrentar centenas de insurgentes islamitas, indicou um militante curdo.
Combatentes do Partido da União Democrática Curda (PYD), braço sírio do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK, rebeldes curdos da Turquia), enfrentam há dias centenas de rebeldes da Frente Al-Nosra e da brigada Ghouraba al-Cham em Rass Al-Ain, cidade síria na fronteira turca, onde os rebeldes ocupam um posto fronteiriço.
Quatro jornalistas e cidadãos-jornalistas foram mortos em uma semana pelo Exército regular, pelos rebeldes e pelas milícias curdas, segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras que lembrou que em 20 meses, pelo menos 15 jornalistas e 41 cidadãos-jornalistas foram mortos na Síria.