Agência France-Presse
postado em 29/11/2012 16:40
México - Enrique Peña Nieto assumirá no próximo sábado, 1; de dezembro, a presidência do México, um país que apresenta uma boa saúde econômica, mas que enfrenta uma onda de violência sem precedentes, herança do governo de Felipe Calderón.Peña Nieto, , pelo Partido Revolucionário Institucional (PRI), que governou o México por 71 anos e que parecia moribundo após sua derrota em 2000, se comprometeu a impulsionar reformas que consolidem a competitividade de um país com um crescimento econômico que superou o do Brasil em 2011.
Espera-se, antes de tudo, que este advogado de 46 anos, com porte de galã de televisão conhecido por sua eficiência na administração governamental, cumpra sua promessa de solucionar a crise de segurança vivida pelo país.
Mudança de estratégia
Peña Nieto se comprometeu a reduzir a violência, que atingiu níveis sem precedentes, causada por disputas entre traficantes e , segundo críticos de Calderón, pela mobilização de mais de 50.000 militares em uma operação de combate às drogas lançada por Calderón.
Esta ofensiva contra as drogas, que Calderón descreveu como uma guerra, e as lutas entre os cartéis, deixaram mais de 60.000 mortos desde dezembro de 2006, quando ele chegou ao poder. Desde então, a taxa de homicídios quase triplicou, passando de nove para 24 em cada 100.000 habitantes.
O governo de Calderón destaca o fato de ter capturado 25 dos 37 criminosos mais procurados do México, mas especialistas em segurança consideram que a estratégia de capturar os "chefões" dos cartéis teve o efeito perverso de uma dispersão geográfica da violência.
Durante um encontro na terça-feira passada em Washington com o presidente norte-americano Barack Obama, Peña Nieto afirmou que dará continuidade à luta antidrogas. "Contudo a estratégia, necessariamente, deve mudar", escreveu o presidente eleito no jornal The Washington Post.
"Vou melhorar a coordenação entre as autoridades encarregadas do combate à criminalidade, ampliarei a força da polícia federal em pelo menos 35.000 oficiais e reforçarei os trabalhos de inteligência e análise", acrescentou no artigo.
Na revista Time, sem se pronunciar sobre a legalização das drogas em dois estados norte-americanos, Peña Nieto disse se a favor de "um debate hemisférico sobre a efetividade do caminho que tem sido seguido na luta contra as drogas".
"Crise humanitária"
"Além dos níveis de violência que dispararam de forma exorbitante e da consequente insegurança, os propósitos estabelecidos não foram cumpridos: houve uma perda de controle territorial do Estado; o consumo de drogas, que era muito pequeno no México, não diminuiu; as instituições ficaram fragilizadas e os cartéis foram atingidos, sim, mas expandiram suas atividades", disse à AFP José Antonio Crespo, historiador e analista político.
Santiago Corcuera, ex-membro mexicano do grupo de trabalho da ONU sobre desaparecimentos forçados, alertou na quarta-feira em declarações à emissora MVS que o México vive uma "verdadeira crise humanitária" que se traduz em uma multiplicação das denúncias de tortura, sequestros ou investigações ilegais. Uma das primeiras medidas anunciadas pelo presidente eleito e proposta ao Legislativo mexicano em dias anteriores foi a extinção da Secretaria de Segurança, criada em 2000 pelos governos do Partido Ação Nacional (PAN).
A Secretaria de Segurança, que teria suas responsabilidades transferidas à secretaria de Governo (Interior), caso o Legislativo aprove a proposta, tem sob seu controle a Policía Federal, fortalecida no atual governo e carro-chefe do combate às drogas ao lado do Exército e da Marinha.
[SAIBAMAIS]No entanto, o prestígio da Policía Federal e da Secretaria de Segurança, presidida por Genaro García Luna, que conseguiu se manter no cargo, apesar das críticas contra ele, foi manchado por casos como o ataque de policiais federais a um veículo diplomático norte-americano ou um confronto entre policiais no aeroporto internacional da Cidade do México.
A eliminação da Secretaria de Segurança reflete a vontade do futuro presidente mexicano de devolver ao poder político a direção das estratégias de segurança, responsabilidade considerada muito séria para ser deixada unicamente nas mãos de militares e policiais.