Agência France-Presse
postado em 02/12/2012 13:25
A oposição do Kuwait exigiu neste domingo a dissolução do Parlamento, eleito no sábado em eleições legislativas boicotadas."Vamos continuar nossas manifestações pacíficas, como previsto na Constituição até a queda do novo Parlamento", disse à AFP o líder da oposição, o ex-deputado Faisal al-Muslim, no dia seguinte à eleição.
A oposição considerou "ilegítimo" o novo Parlamento, contestando uma emenda à lei eleitoral, que determinou que cada eleitor deve votar em apenas um candidato, quando anteriormente nomeava até quatro candidatos.
[SAIBAMAIS]"Apelamos para a queda do Parlamento e a revogação do Decreto (a emenda), porque esta Câmara não representa o povo do Kuwait", indicou Muslim. De acordo com os resultados anunciados pela Comissão Nacional Eleitoral, os candidatos xiitas conquistaram 17 dos 50 assentos no Parlamento, um recorde. Já os sunitas, antes maioria, boicotaram as eleições e elegeram apenas 4 representantes.
Os xiitas, que representam quase 30% dos 1,2 milhões de kuwaitianos, tinham apenas nove membros na Câmara em 2009 e 7 na eleita em fevereiro, que foi dissolvida em junho por uma decisão judicial. Trinta novos deputados entraram no Parlamento, refletindo o amplo boicote a eleição por ex-membros que lideram a oposição.
Para o analista político Mohamed al-Ajmi, esta "eleição é o presságio de uma nova fase de instabilidade política (...) porque o novo Parlamento não representa fielmente a população do Kuwait".
A oposição exige reformas democráticas para reduzir a influência da família real sobre o funcionamento do Estado, com um governo eleito pela maioria parlamentar e um combate mais efetivo à corrupção.
A oposição comemorou o boicote e denunciou a eleição como "inconstitucional". "De acordo com estatísticas compiladas pela oposição, a taxa de participação foi de 26,7%", declarou o ex-parlamentar Khaled al-Sultan, ao final de uma reunião realizada pela oposição.
No entanto, o Ministério da Informação anunciou uma taxa de participação de 38,8%, posteriormente aumentada para 40,3%, na ausência de indicações da Comissão Nacional Eleitoral.
Ex-deputados exigiram também que o emir, xeque Sabah al-Ahmad Al-Sabah, revogue a emenda contestada. O Comitê Popular de boicote disse em um comunicado que o novo Parlamento "não representa a maioria do povo do Kuwait e, por isso, perde toda a legitimidade".
Um eleito xiita, Khaled al-Shatti, defendeu por sua vez o novo Parlamento, dizendo que "ajudaria a aumentar a estabilidade política e o desenvolvimento" no emirado.
As três principais tribos beduínas - Awazem, Mutair e Ajami, com 400.000 membros - foram as que mais perderam, com apenas um eleito, contra 17 nos Parlamentos anteriores.
A eleição, a segunda em 10 meses e a quinta desde meados de 2006, transcorreu sem incidentes, apesar da tensão política entre a oposição e o governo liderado pela família real Al-Sabah.