Agência France-Presse
postado em 03/12/2012 17:39
BOGOTÁ - As autoridades colombianas aumentam a pressão sobre as Farc antes do recomeço das negociações em Cuba, esta semana, com um ultimato de um ano para um acordo de paz e um ataque militar que pode ter causado a morte de dezenas de guerrilheiros.Em uma mensagem publicada nesta segunda-feira em sua conta do Twitter, o presidente Juan Manuel Santos considerou positivo o desenvolvimento da primeira rodada das negociações com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que devem continuar na quarta-feira em Havana.
"Ninguém está pensando em modificar o tempo. Meses e não anos", reiterou Santos sobre o prazo previsto para o fim das negociações. No domingo, o presidente destacou que as negociações devem ser concluídas no mais tardar em novembro de 2013.
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"Este prazo não deve perturbar as discussões agora", considerou em declarações à AFP o cientista político colombiano Ariel Ávila, que considera que Santos quer obter resultados antes das eleições presidenciais de 2014, quando pode tentar a reeleição.
"Por outro lado, se não houver resultados rápidos, as coisas podem se complicar com a aproximação dessa data", disse Ávila, pesquisador da Corporação Novo Arco Iris, especializada no conflito armado da Colômbia.
As negociações com a guerrilha mais antiga da América Latina devem se concentrar em cinco pontos particularmente delicados: o desenvolvimento rural, a participação das Farc na vida política, o fim das hostilidades, a luta contra o tráfico de cocaína - a Colômbia continua sendo o primeiro produtor mundial - e os direitos das vítimas.
Oficialmente, não há data limite para o fim das negociações, e a guerrilha, que insiste em abordar as causas sociais do conflito, já expressou diversas vezes sua rejeição a uma "paz express". Contudo, Santos alertou às Farc que não permitirá "utilizar a mesa (de diálogo) para fazer sua revolução por decreto".
Iniciadas formalmente em outubro, na Noruega, as negociações foram transferidas no dia 19 de novembro para Havana e tiveram uma pausa na quinta-feira com mensagens de esperança por parte de ambas as delegações.
O porta-voz da equipe governamental, o ex-vice-presidente Humberto de la Calle, afirmou então que o processo tinha "avançado dentro do previsto", enquanto Iván Márquez, chefe da delegação guerrilheira e número dois das Farc, manifestou sua "imensa fé" no processo. Contudo, a retomada das negociações, prevista para quarta-feira, poderá acontecer em um clima muito mais tenso.
Além do ultimato feito por Santos, o Exército colombiano anunciou ter abatido dezenas de guerrilheiros em um bombardeio realizado sábado no sudoeste do país, próximo à fronteira com o Equador. No momento foram identificados seis cadáveres, incluindo um chefe conhecido como "Guillermo, o Pequeno", informou o general Leonardo Barrero, chefe do Comando Conjunto Sul-Ocidente.
O governo colombiano se negou a estabelecer uma trégua antes de um acordo final, enquanto as Farc se comprometeram com um cessar-fogo unilateral durante dois meses, até 20 de janeiro, como gesto de boa vontade. O bombardeio "não deve impactar as negociações. Estava previsto que as operações da Forças Armadas seriam mantidas", lembrou Ávila.
Fundada em 1964, após uma revolta camponesa, as Farc contam com 9.200 combatentes, a maioria em zonas rurais do país, de acordo com as autoridades. O conflito colombiano, o mais longo da região, causou 600.000 mortos, 15.000 desaparecidos e quatro milhões de desalojados, segundo cifras oficiais.