Agência France-Presse
postado em 07/12/2012 13:53
Cairo - O principal gurpo da oposição secular do Egito rejeitou, nesta sexta-feira (7/12), uma oferta de diálogo proposta pelo presidente islâmico Mohamed Mursi, aumentando a possibilidade de mais uma escalada na crise, que havia começado de forma sangrenta no começo desta semana.Os funerais da maioria das sete pessoas mortas em conflitos na noite de quarta-feira entre manifestantes favoráveis a Mursi e opositores - todos considerando-se membros da Irmandade Muçulmana - serão realizados nesta sexta, o tradicional dia de reza e descanso dos muçulmanos. A coalizão da Frente Nacional de Salvação, que faz parte da oposição, clamou para que a população saísse às ruas para mais manifestações após as orações do meio-dia.
Os protestos em massa serão um teste para militares e para a polícia de choque da guarda presidencial do palácio, que tentará conter as manifestações com tanques e barricadas com arame farpado. O bloco formado pela oposição acusou Mursi de rejeitar "as inúmeras reivindicações para soluções de consenso... para tirar o Egito desta desastrosa situação".
O presidente é acusado de "dividir os egípcios entre aqueles que apoiam a legitimidade... e seus opositores, a quem chamou de bandidos". Em discurso televisionado na noite desta quinta-feira, Mursi defendeu a necessidade de ter mais poderes em um decreto assinado no mês passado, e disse que vai se esforçar pela realização de um referendo no dia 15 de dezembro para reformar o projeto de Constituição do Egito elaborado por um conselho formado, em sua maioria, por muçulmanos.
[SAIBAMAIS]Mursi disse ainda que está preparado para dialogar com a oposição neste sábado, mas demonstrou pouca intenção de chegar a um acordo. O cenário fora do palácio presidencial parecia calmo com segurança reforçada. Dezenas de tanques e blindados estavam prontos para entrar em ação na região com a presença de soldados e da polícia de choque posicionados atrás de barricadas de arame farpado. Nesta quinta, eles já haviam feito uma varredura da área. A previsão é que os protestos aumentem ainda mais após as rezas.
O grupo de jovens ativistas 6 de Abril conclamou as pessoas a participar de marchas saindo das mesquitas do Cairo em direção às principais praças da capital. As manifestações ocorridas esta semana foram as maiores registradas desde que Mursi assumiu o poder em junho. Os conflitos nas ruas reavivaram o clima de agitação do levante de fevereiro de 2011, que derrubou Hosni Mubarak. Em seu discurso na noite de quinta-feira, Mursi afirmou que o referendo para a elaboração da Constituição está mantido, acrescentou que "ao final... todos deverão seguir a sua vontade". E destacou ainda: "Respeitamos uma liberdade de expressão pacífica, mas jamais permitiria que se recorresse a matanças ou a sabotagens".
Centenas de manifestantes opositores tentaram atacar a sede da Irmandade Muçulmana no Cairo no momento em que Mursi fazia seu pronunciamento. Eles foram contidos pela polícia de choque, que jogou bomba de gás lacrimogêneo para dispersar a multidão. Pelo menos quatro assessores de Mursi já deixaram o governo durante a crise, e as ações na bolsa da Cairo sofreram um duro golpe.
Os Estados Unidos e a União Europeia convocaram o Egito para uma mesa de diálogo para pôr fim à crise. O presidente norte-americano, Barack Obama, expressou sua "profunda preocupação" em uma conversa por telefone com Mursi na quinta-feira, segundo informou a Casa Branca. Obama teria dito a Mursi que seria "essencial para os dirigentes egípcios que, no espectro político, deixassem de lado suas diferenças e chegassem a um acordo para que o Egito avançasse".