Agência France-Presse
postado em 10/12/2012 17:35
A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, tradicional crítica das políticas de ajuste da Europa para combater a crise, realizará nesta terça-feira (10/11) sua primeira visita oficial à França, país que aguarda há dois anos sua decisão sobre uma bilionária licitação de caças.Dilma, no poder desde janeiro de 2011, se reunirá na terça-feira (11/12) com o presidente François Hollande para discutir maneiras de enfrentar a crise econômica na zona do euro e as questões de interesse global e cooperação.
Os líderes também discutirão "questões internacionais, como a crise na Síria e no Oriente Médio, sobre a qual há um bom entendimento entre os dois países", disse um funcionária do chancelaria brasileira, sob anonimato.
Apesar de a agenda oficial não incluir uma referência explícita à licitação brasileira de 36 aviões caças por empresas concorrentes da França, dos EUA e da Suécia, a questão tem estado no centro das conversações bilaterais nos últimos anos.
O porta-voz do Ministério francês das Relações Exteriores, Philippe Lalliot, disse nesta segunda-feira que "esta é uma decisão soberana do Brasil".
"A presidente Dilma Rousseff conhece a qualidade da nossa parceria, especialmente no que diz respeito à transferência de tecnologia e nós mostramos na execução de contratos anteriores a qualidade e a realidade dos compromissos da França nessa área", disse Lalliot.
A empresa francesa Dassault, com seu modelo Rafale, a norte-americana Boeing, com seu F/A-18 Super Hornet, e o sueco Saab, com o Gripen NG, disputam o contrato de cerca de 5 bilhões de dólares para a renovação da frota de aeronaves do Brasil, sexta maior economia do mundo.
A princípio, a decisão era esperada para 2011, mas o governo brasileiro a adiou devido a problemas orçamentários associados com a desaceleração da economia após a crise global.
o Brasil "tem todos os elementos para decidir a qualquer momento", acrescentou Lalliot.
Para o fim de setembro, um funcionário de alto escalão do governo brasileiro disse à AFP que a decisão final será anunciada em 2013 e disse que o governo tem um favorito.
Com isso, analistas acham improvável que Hollade consiga convencer Dilma na reunião de terça-feira em Paris.
"Eu não acho que esta visita de Dilma possa influenciar a decisão no Brasil", disse Antonio Ramalho, professor de Relações Exteriores da Universidade de Brasília e especialista em relações UE-Brasil.
O comércio entre Brasil e França cresceu 40% nos últimos cinco anos, atingindo 8,3 bilhões de dólares nos primeiros 10 meses de 2012, segundo o Ministério de Relações Exteriores do Brasil.
Além de seu encontro com Hollande, Dilma vai se reunir com os presidentes do Senado, Jean-Pierre Bel, e da Assembleia Nacional, Claude Bartolone, além do prefeito de Paris, Bertrand Delano;.
A presidente brasileira também participará com Hollande da abertura de um fórum econômico organizado pela Fundação Jean Jaur;s (França) e do Instituto Lula (Brasil), que terá entre seus convidados o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010).
Dilma deverá reafirmar suas opiniões para o modelo europeu de ajustes e apresentar a experiência brasileira no estímulo ao crescimento e no combate à crise. Contudo, o Brasil crescerá apenas 1,03% este ano, de acordo com estimativas de mercado divulgadas nesta segunda-feira, o menor aumento do PIB entre os Brics.
Depois de sua visita a Paris, Dilma vai na quarta-feira para a Rússia, um de seus parceiros nos Brics, para cumprir a sua última viagem internacional de 2012.
O grupo Brics, formado ainda por Índia, China e África do Sul, tem pressionado o Fundo Monetário Internacional (FMI) por mais poder de decisão dentro do organismo. A agenda oficial da presidente na Rússia ainda não foi divulgada.