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Síria vive guerra civil devido a rebelião popular

Agência France-Presse
postado em 11/12/2012 13:15

Atme - Em vinte meses a revolta popular síria reprimida violentamente se converteu em uma rebelião armada que se islamiza cada dia mais no país, onde as promessas da Primavera Árabe parecem ter caído no esquecimento.

Frente à brutalidade das forças governamentais e, apesar de o espírito revolucionário não ter se esvaído, o movimento pacífico e popular contra o regime do presidente Bashar al-Assad se transformou aos poucos em uma guerra civil.

Apoiados pelos sunitas, que são maioria no país, os insurgentes entraram na luta armada com uma pequena quantidade de fuzis contrabandeados ou comprados de oficiais corruptos.

Atualmente controlam grande parte das zonas rurais e algumas cidades, constatou a AFP. No noroeste, estão a ponto de conquistar um vasto território que abarca desde Aleppo (norte), em plena batalha rua a rua, até a fronteira turca.

"O início do fim"

A rebelião se estendeu no leste do país, e os combates se aproximaram de Damasco, onde o Exército realiza vastas operações contra o que o regime chama de "terroristas".

O xeque Taufik, um senhor de guerra islamita da região de Aleppo, está convencido que "o regime se enfraquece um pouco mais a cada dia". Para ele, "é o início do fim".

Incapaz de recuperar o terreno perdido, o regime abandonou as zonas rurais e passou a se focar em defender a capital, as grandes cidades e os lugares estratégicos, e em manter protegido os redutos alauitas (corrente do xiismo ao qual pertence a maior parte dos dirigentes sírios). As forças do governo bombardeiam povoados e bairros rebeldes, mesmo que haja civis, que vivem um calvário.

Um jornalista da AFP testemunhou no dia 18 de outubro a brutalidade dos ataques. Ele viu 40 pessoas, entre elas 22 crianças, mortas esmagadas pelos escombros de seu edifício devido à queda de uma bomba. Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), que acompanha este conflito, 42.000 pessoas, em sua maioria civis, morreram desde o começo da revolta, em março de 2011.

Centenas de milhares de sírios fugiram. No povoado de Atme, uma multidão ocupa as plantações de oliveiras ao longo da fronteira turca, na esperança de conseguir cruzar para o outro lado. A comunidade internacional ficou paralisada durante muito tempo e acabou desistindo de encontrar uma saída negociada para o conflito. Além disso, Damasco sabe que pode contar com o apoio de Rússia e Irã, seus maiores aliados.

O Exército se mantém confiante em sua superioridade material e em seu poder de fogo (incluindo seu arsenal químico que suscita grande preocupação internacional). No entanto, a supremacia da aviação do regime pode estar ameaçada devido ao uso de mísseis antiaéreos pelos rebeldes. Um jornalista da AFP foi testemunha da derrubada de dois aviões em 24 horas no final de novembro perto de Daret Eza (noroeste) com esses mísseis "confiscados do inimigo", segundo os rebeldes. A rebelião possui munição e armas leves, mas o material ofensivo continua sendo escasso.

Fantasma de guerra civil

A insurreição optou por uma estratégia que consiste em cortar as linhas de abastecimento, asfixiar as grandes cidades e assediar as guarnições isoladas.

Os rebeldes, em sua luta contra os militares, os serviços de inteligência (moujabarat) e os milicianos pró-Assad (shabihas), aperfeiçoaram suas técnicas de treinamento e contam com centenas de voluntários estrangeiros, que chegaram para reforçar suas fileiras.

Mas estes seis últimos meses foram marcados por uma crescente islamização da luta armada e pela emergência da Frente Al-Nusra, acusada em algumas ocasiões de ser a representante da Al-Qaeda na Síria. Este grupo está se impondo em todas as frentes, ameaçando a revolução.

Em 10 de dezembro, os jihadistas da Al-Nusra e de grupos leais a eles se apoderaram da base do Sheikh Suleimane, última fortaleza do Exército no oeste de Aleppo. Na véspera, um jornalista da AFP viu a bandeira negra dos islamitas tremulando sobre um dos prédios.

Muitos sírios admiram os combatentes da Al-Nusra, disciplinados e combativos, em comparação com os batalhões do Exército Sírio Livre, com fama de "corruptos". Embora majoritariamente síria, a Frente Al-Nusra atraiu rebeldes radicais, entre eles jihadistas estrangeiros.

Mas seu ódio em relação aos "ímpios" e a atitude do regime, que se aproveita das divisões confessionais, alimentam os temores de uma "libanização" do conflito.

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