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Diálogo suspenso no Egito, oposição pede ao povo que vote 'não'

Agência France-Presse
postado em 12/12/2012 15:14
Cairo - O Exército egípcio adiou sem nova data um encontro previsto para esta quarta-feira (12/12) entre o governo e a oposição, que tinha o objetivo de apaziguar as tensões com a aproximação do referendo constitucional no qual a oposição pede ao povo para votar "não".

O controverso projeto de constituição será submetido aos eleitores em 15 e 22 de dezembro, em duas zonas de votos distintas do Egito, em meio à mais grave crise política desde a eleição do primeiro presidente islamita e civil do país Mohamed Mursi, em junho.

A Frente de Salvação Nacional (FSN), principal coalizão opositora, pediu oficialmente para que a população vote contra a nova constituição, exigindo garantias -apenas um dia de votação, presença de um juiz em cada urna ou presença de um observador nacional ou internacional-, condições sem as quais pedirá abstenção ao voto.

A oposição continua pedindo que a votação seja adiada em dois ou três meses para que se obtenha um consenso sobre o projeto de lei fundamental que, no seu estado atual, abre as portas para uma islamização maior da legislação e para a falta de garantias das liberdades, de acordo com a oposição de esquerda liberal.

O campo presidencial assegura em contrapartida que permitirá a adoção de um quadro institucional estável após quase dois anos de uma transição política caótica, que seguiu a revolução que derrubou o presidente Hosni Mubarak. O Exército desistiu de organizar uma reunião muito esperada entre o governo, com a presença de Mursi, e personalidades políticas de todos os partidos. A oposição também já havia dito que estava disposta a participar.



Em comunicado lacônico, o Exército afirmou que a iniciativa, lançada na véspera "em nome do amor ao Egito" pelo ministro da Defesa e comandante das Forças Armadas, Abdel Fattah al-Sissi, será "adiada até uma próxima data", explicando que "as reações ao encontro não atenderam as expectativas".

As tentativas do Exército de iniciar o diálogo para evitar um desastre político no país permitiram à instituição militar se estabilizar e reencontrar uma visibilidade inédita após vários meses ofuscada pelo presidente Mursi.

Boicote dos juízes

A comissão eleitoral anunciou que o referendo, inicialmente previsto para um só dia, 15 de dezembro, acontecerá nos dias 15 e 22 de dezembro em duas regiões distintas do país, uma medida que poderia evitar o boicote da supervisão do voto por diversos juízes. Os juízes poderiam assim ir de uma região à outra entre os dois dias. O Cairo já votaria a partir de sábado.

A mais importante associação de magistrados do país, o Clube dos Juízes, indicou que 90% de seus membros planejava boicotar a supervisão do processo eleitoral. Os egípcios que residem no exterior terão quatro dias para votar, começando nesta quarta-feira. Cerca de 600.000 egípcios expatriados inscritos nas listas eleitorais poderão votar nas 150 representações diplomáticas pelo mundo.

O referendo está no centro de diversas manifestações, por vezes violentas, que ocorreram entre partidários e adversários do presidente islamita nos últimos dias. Terça-feira, manifestações rivais reuniram milhares de pessoas, em frente ao palácio presidencial, no bairro de Heliópolis, para a oposição, e a alguns quilômetros do local, para os islamitas. Não houve confronto.

Como consequência dos confrontos entre partidários dos dois lados, o total de mortos chegou a oito após a morte do jornalista El-Husseini Abu Deif, do jornal independente Al-Fajr, ferido em 5 de dezembro na cabeça por uma bala de borracha disparada por uma pessoa não identificada. O Exército foi mobilizado por Mursi para garantir a segurança até o anúncio dos resultados. A calma reinava nesta quarta-feira nas imediações do palácio presidencial.

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