Agência France-Presse
postado em 14/12/2012 13:40
Cairo - Partidários e adversários de um projeto de Constituição preparavam nesta sexta-feira (14/12) novas manifestações no Cairo, antes da realização a partir deste sábado de um referendo organizado sob alta proteção policial e militar devido às enormes tensões entre o governo islamita de Mohamed Mursi e a oposição laica do Egito.Alguns confrontos ocorreram em Alexandria (norte), a segunda maior cidade do país, entre grupos de islamitas partidários do "sim" e opositores favoráveis ao "não", que lançaram pedras, segundo testemunhas.
No Cairo, cerca de 2.000 partidários do presidente islamita Mohamed Mursi se reuniram em frente a uma mesquita do leste da capital, convocados por partidos islamitas para apoiar o projeto de lei fundamental.
A oposição, que preconiza o "não", convocou protestos na tarde desta sexta-feira em direção ao palácio presidencial, protegido pelo exército e localizado em Heliópolis, nos arredores da capital.
Manifestações similares ocorrem desde o fim de novembro, levando várias vezes a confrontos entre militantes de ambos os campos, que deixaram oito mortos na semana passada diante da presidência.
O referendo será realizado no sábado em dez cidades, entre elas Cairo e Alexandria. Uma semana depois irá ocorrer em outras 17 governações.
Cerca de 120 mil soldados foram convocados como reforço pelo presidente Mursi para se juntar a 130 mil policiais e garantir a segurança durante a votação. "Os tanques nas ruas para a batalha do ;sim; e do ;não;" era a manchete nesta sexta-feira do jornal independente Al-Masry al-Yum.
A divisão do país em duas zonas de votação foi decidida in extremis, para enfrentar um boicote de muitos magistrados encarregados de assegurar a supervisão da votação.
O projeto de Constituição pretende dotar o país de um quadro institucional estável, que, segundo seus partidários, reflita as mudanças produzidas no país após a queda de Hosni Mubarak, no início de 2011.
Voto de confiança para Mursi
A oposição laica, de esquerda e liberal denuncia, por sua vez, um texto adotado de forma apressada por uma comissão dominada pelos islamitas, que gera, segundo ela, uma islamização da legislação e contém lacunas em matéria de proteção das liberdades.
Este referendo também é considerado um voto de confiança para o presidente Mursi, procedente da Irmandade Muçulmana, e que foi eleito com uma curta maioria de 51,7% dos votos em junho.
Mursi pode contar com a capacidade de mobilização da poderosa organização islamita, mas enfrenta uma profunda crise econômica que provoca um grande descontentamento popular.
Seja qual for o resultado, este referendo "vai exacerbar as tensões políticas e os ressentimentos" entre um presidente que optou por manter um controverso texto e uma oposição cada vez maior, opina Hari Sabra, especialista do centro de análises econômicas americano Eurasia Group, em uma nota.
Mohamed ElBaradei, prêmio Nobel da paz e figura emblemática da principal coalizão da oposição, a Frente de Salvação Nacional (FSN), declarou que o projeto de Constituição era "nulo e sem valor" e que, se fosse adotado, seus adversários "fariam todo o possível para acabar com ele por meios democráticos e pacíficos".
A votação conta com 51,3 milhões de eleitores inscritos, sobre uma população total de 83 milhões de pessoas. O Egito é o país mais populoso do mundo árabe.
Os Estados Unidos convocaram na quinta-feira Mursi, "o primeiro dirigente democraticamente eleito no Egito", a agir a favor de um "consenso nacional" após este referendo.