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Egípcios votam em referendo e oposição acusa governo

Agência France-Presse
postado em 15/12/2012 14:45
Cairo - Os egípcios comparecem às urnas neste sábado (15/12) para votar em um referendo sobre o projeto de Constituição que divide profundamente o país e que provocou várias manifestações e confrontos.

A oposição acusou a Irmandade Muçulmana, de onde procede o presidente Mohamed Mursi, de tentar fraudar o referendo sobre um polêmico projeto de Constituição e denunciou várias irregularidades. "A quantidade de infrações indica uma clara intenção de fraudar a votação por parte Irmandade Muçulmana, com o objetivo de aprovar a Constituição da irmandade", afirma um comunicado da Frente de Salvação Nacional (FSN), uma coalizão dos principais movimentos da oposição.

"Registramos irregularidades em todos os governos que votam neste sábado", completou.

A Frente pediu às "instâncias envolvidas a assumir suas responsabilidades para garantir a transparência da votação" e estimulou o povo a comparecer às urnas para "dizer não e impedir qualquer tentativa de manipular a vontade do povo".

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A oposição afirma ter constatado que em alguns locais de votação, os membros da Irmandade Muçulmana distribuam açúcar, óleo e chá. Acusam ainda um juiz do Cairo de ter impedido a entrada de eleitores cristãos. Não foi possível confirmar as informações com fontes independentes.

O referendo acontece neste sábado em 10 áreas, incluindo Cairo e Alexandria e a região instável do Sinai, que somam 26 milhões de eleitores sobre um total de 51,3 milhões. As outras 17 áreas governamentais votarão em 22 de dezembro.

Os locais de votação abriram as portas às 8H00 (4H00 de Brasília)) e devem fechar às 21H00 (17H00 de Brasília), depois que as autoridades ampliaram o tempo de votação em duas horas, segundo a agência de notícias Mena.

O presidente islamita Mohamed Mursi foi um dos primeiros a votar, no Cairo, perto do palácio presidencial.

De acordo com os defensores do texto, o projeto de Constituição pretende dotar o país de um marco constitucional estável e democrático, que deve refletir as mudanças ocorridas no país desde a queda do autocrata Hosni Mubarak no início de 2011.

A oposição laica, de esquerda e liberal denuncia um texto adotado às pressas por uma comissão dominada por islamitas, o que abriria o caminho para interpretações rígidas do Islã e apresentaria poucas garantias para as liberdades fundamentais.

"Votei em Mursi (na eleição presidencial de junho), mas foi um grande erro. Esta Constituição é ruim, entre outros motivos porque não proíbe o trabalho das crianças e abre o caminho para o casamento de menores de idade", afirmou Ali Mohamed Ali, um desempregado que lamenta o aumento dos preços com o novo governo.

Kasem Abdallah, morador do bairro popular de Mokatam no Cairo, próximo da sede da Irmandade Muçulmana, movimento ao qual pertence Mursi, disse que vota "sim" por considerar que a Constituição "oferece direitos e estabilidade".

Partidários do "sim" e do "não" se enfrentaram na sexta-feira em Alexandria (norte), a segunda maior cidade do país, e 15 pessoas ficaram feridas. A polícia utilizou gás lacrimogêneo para acabar com a confusão.

O referendo foi precedido por várias semanas de manifestações que resultaram em diversas vezes em confrontos entre opositores e partidários do presidente.

No início do mês, oito pessoas morreram em confrontos perto do palácio presidencial do Cairo.

A divisão do país em duas grandes áreas de votação foi decidida na última hora, como uma tentativa de enfrentar um boicote de vários magistrados responsáveis por supervisionar o processo.

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