Agência France-Presse
postado em 17/12/2012 13:14
Cairo - A oposição egípcia prepara novas manifestações para esta terça-feira (18/12) contra o projeto de Constituição proposto pelos islamitas, texto que conseguiu apenas uma pequena maioria na primeira fase do referendo de sábado, de acordo com números não oficiais.A Frente de Salvação Nacional (FSN), que reúne os principais movimentos de oposição de esquerda e liberal, convocou o povo a ir às ruas terça-feira para defender as liberdades, impedir a fraude e rejeitar o projeto de Constituição, antes da segunda etapa do voto, no próximo sábado.
No Cairo, a manifestação deve acontecer na emblemática praça Tahrir, lugar da revolta contra o regime de Hosni Mubarak em 2011, e que continua como palco predileto para manifestações políticas.
Os resultados não oficiais anunciados pela Irmandade Muçulmana, partido do presidente Mohamed Morsi, e por um grupo de oposição, dão o "sim" vencedor com cerca de 56% dos votos.
O debate foi duro na imprensa egípcia na segunda-feira. "O Egito disse ;não; e a fraude disse ;sim;", era o título do jornal independente al-Watan, refletindo o sentimento de vários opositores. Para o al-Gomhuria (do governo), "O Egito quer saber quando vai ter fim a divisão do país".
O Al-Shuruq (independente) afirmou que os resultados não oficiais "representam uma derrota para todo mundo", enfatizando o número de abstenções, a derrota da oposição e o sucesso magro dos partidários do presidente Mursi.
A primeira fase do voto no sábado englobou cerca de metade dos 51 milhões de eleitores inscritos no país e incluiu as duas maiores cidades do país, o Cairo e Alexandria.
De acordo com os resultados comunicados pela Irmandade Muçulmana, a capital, onde a oposição é forte, teve 57% de votos "não", enquanto que a Alexandria, feudo islamita, aprovou a nova Constituição. Os resultados oficiais só serão anunciados com o fim da segunda fase de votos, nas 17 províncias restantes.
De acordo com a imprensa, a taxa de participação no referendo foi de cerca de 30%, contra 41% no referendo de março de 2011 sobre disposições institucionais provisórias após a queda de Mubarak. A comissão eleitoral não quis comentar essas informações, dizendo também que não daria nenhum número oficial até o final da segunda fase de voto.
A FSN afirmou que "não reconheceria nenhum resultado que não fosse oficial", e acusou os Irmãos muçulmanos de tentar manipular os resultados. O projeto de Constituição está no meio da maior crise política no Egito desde da eleição de Mursi em junho.
As tensões entre os partidários e adversários de Mursi culminaram na noite de 5 de dezembro em confrontos violentos na cercania do palácio presidencial no Cairo, causando oito mortos e centenas de feridos.
A oposição afirma que o texto abre as portas para interpretações rigorosas do islamismo e oferece poucas garantias para algumas liberdades básicas.
Para os defensores da nova Constituição, o texto daria ao país um quadro institucional estável, um argumento sedutor para os vários egípcios inquietos após quase dois anos de transição governamental.