Agência France-Presse
postado em 17/12/2012 13:16
Beirute - O vice-presidente sírio, Faruk al-Shareh, manifestou abertamente suas divergências em relação a Bashar al-Assad ao se pronunciar a favor de uma solução negociada para o conflito na Síria, enquanto o presidente opta pela via militar para esmagar a rebelião armada.Na capital, os palestinos fugiam em massa do acampamento de Yarmuk, onde ocorriam combates entre os partidários do regime e os rebeldes e quando a aviação bombardeava os subúrbios orientais da capital, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).
Em uma entrevista concedida em Damasco ao jornal libanês pró-sírio "Al-Akhbar", Shareh assegurou que as divergências sobre a resolução da crise na Síria, que já deixou 43 mil mortos, segundo o OSDH, alcançam o mais alto nível do Estado. "Os que têm a sorte de se reunir com o senhor presidente ouvirão de sua boca que se trata de um conflito longo e de uma grande conspiração tramada por várias partes", disse.
"(Assad) não esconde sua vontade de escolher a opção militar até a vitória final (e acredita que) depois o diálogo político será realmente possível", indicou Shareh.
O vice-presidente sunita disse, pelo contrário, ser partidário de uma solução negociada. "Nenhuma rebelião pode colocar fim à batalha com meios militares. Da mesma maneira, as operações das forças de segurança e das unidades do exército tampouco colocarão fim à batalha", assegurou.
Shareh, considerado um possível substituto do presidente Bashar al-Assad em caso de transição negociada, pediu um acordo histórico entre as partes.
Segundo Shareh, "Assad tem todos os poderes do país (...) Mas há opiniões e pontos de vista diferentes no comando sírio. No entanto, não se chegou ao ponto de falar de correntes ou divisões profundas". É a primeira vez que um dirigente sírio de alto escalão fala sobre tais divergências de ponto de vista na liderança do Estado. Em um país autocrático como a Síria, significa que conta com apoios importantes para poder protestar assim.
Shareh, de 73 anos, foi durante 22 anos chefe da diplomacia síria, antes de se converter em vice-presidente. Segundo um especialista da Síria que pediu para não ser identificado, Shareh goza de um apoio total do Irã, principal aliado da Síria. Por sua vez, o Irã apresentou nesta segunda-feira os detalhes de um plano de saída da crise de seis pontos que compreende o fim da violência e um "diálogo nacional entre o regime e a oposição para formar um governo de transição".
Este governo será o encarregado de organizar eleições livres para designar o parlamento, a assembleia constituinte e a presidência. Um jornal russo também informou nesta segunda-feira que no início de dezembro a Turquia propôs à Rússia uma nova fórmula para uma transição pacífica na Síria, que Moscou considerou criativa.
Segundo esta fórmula, Assad deixaria o poder no primeiro trimestre de 2013 e o poder passaria, por um período de transição, à Coalizão Nacional, reconhecida na semana passada como representativa do povo sírio pela centena de países e organizações do grupo chamado "Amigo do Povo Sírio".
Em terra, ocorreram novos confrontos entre rebeldes e combatentes pró-Assad da Frente Popular de Libertação da Palestina - Comando Geral (FPLP-CG) no acampamento de Yarmuk, onde vivem 150 mil palestinos, segundo o OSDH.
Uma testemunha se referiu a "um grande movimento de pânico nesta segunda-feira de manhã" dos habitantes de Yarmuk que buscavam um local seguro, quando seu acampamento, situado na linha de frente, foi alvo no domingo de um bombardeio aéreo, pela primeira vez em 21 meses de combates.
Segundo um último balanço do OSDH, que se apoia em uma rede de militantes e médicos, a violência deixou ao menos 160 mortos em todo o país no domingo, dos quais 85 civis.