Agência France-Presse
postado em 18/12/2012 20:09
Cairo - A oposição egípcia tentou nesta terça-feira (18/12) manter a pressão contra o polêmico projeto de Constituição promovido pelo presidente Mohamed Mursi, mas a mobilização de manifestantes foi baixa, a quatro dias da segunda etapa do referendo sobre a Carta Magna, que deve ser aprovada pela maioria da população.No final do dia, apenas 2 mil pessoas se manifestavam diante do Palácio Presidencial, no Cairo, algo muito distante dos grandes protestos das últimas semanas, que obrigaram o presidente Mursi, apoiado pela Irmandade Muçulmana, a suspender o decreto que lhe conferia poderes excepcionais.
Centenas de manifestantes se concentraram na emblemática praça Tahrir, atendendo ao chamado da Frente de Salvação Nacional, principal coalizão de partidos da oposição "para defender as liberdades, impedir a fraude e rejeitar o projeto de Constituição".
"Não estamos de acordo com esta Constituição e não reconhecemos a validade do referendo", declarou Ayub Lauindi, um dos manifestantes.
A primeira parte da votação, que envolveu cerca da metade dos 51 milhões de eleitores inscritos, deu quase 57% de aprovação ao projeto apoiado por Mursi e pela Irmandade Muçulmana, segundo resultados extraoficiais.
A segunda fase irá ocorrer no sábado em 17 cidades. Os resultados oficiais dos dois turnos só serão publicados ao término desta segunda etapa.
Os números oficiais demonstram que o texto será adotado, apesar da rejeição de uma oposição que o acusa de favorecer uma islamização acentuada do país e de oferecer poucas garantias para as liberdades.
A oposição e as ONGs também denunciam que a votação apresenta muitas irregularidades em benefício de sua aprovação.
Com um curto avanço do "sim", este referendo está longe de constituir um plebiscito a favor do presidente Mursi esperado pelo campo islamita.
O setor presidencial afirma que este projeto de Constituição deve trazer uma estabilidade institucional ao Egito e encerrar a agitada transição iniciada com a queda de Hosni Mubarak do poder, no início de 2011.
Mais uma vez, o poderoso Exército egípcio advertiu contra os riscos de uma crise prolongada.
"As divisões afetam a economia e ameaçam a paz social, o que exige cerrar fileiras, renunciar às divergências e fazer com que o interesse geral prevaleça", declarou o ministro da Defesa e comandante das forças armadas, general Abdel Fattha al Sissi, citado pela imprensa.
O boicote da supervisão do referendo pelos magistrados se estendeu sem que seu impacto sobre a organização da votação seja claro.
O Clube dos Juízes do Conselho de Estado se uniu na segunda-feira aos muitos magistrados que se negam a participar da vigilância das urnas para denunciar uma ingerência do Poder executivo nos assuntos judiciais. A presença de magistrados é obrigatória nos centros de votação.
As tensões entre o poder e a justiça também se manifestaram na noite de segunda-feira com a renúncia do novo procurador-geral, Talaat Ibrahim Abdullah, cuja nomeação há menos de um mês pelo presidente Mursi era muito questionada.
Abdullah substituía o procurador Abdel Meguid Mahmud, acusado pelo poder de ser complacente com personalidades do regime anterior. Sua destituição por ordem de Mursi havia sido denunciada por muitos magistrados como um atentado contra a independência da justiça.