Agência France-Presse
postado em 19/12/2012 16:44
Jerusalém - As autoridades de Israel, em plena campanha eleitoral, anunciaram projetos de construção de milhares de casas em bairros de colonização de Jerusalém Oriental ocupada e anexada, mesmo após intensas condenações internacionais. A municipalidade israelense de Jerusalém aprovou nesta quarta-feira (19/12) um projeto de construção de 2.610 casas em Givat Hamatos, situado no sul do setor oriental da cidade, que se tornará, se o projeto passar, o primeiro bairro de colonização judia criado em Jerusalém Oriental em 15 anos, informaram as organizações de direitos humanos."O prefeito adjunto acaba de me dizer que ele aprovou as 2.610 unidades em Givat Hamatos", declarou Daniel Seidemann, diretor da Terrestrial Jerusalem, uma ONG que vigia a colonização israelense em Jerusalém Oriental. "Oficialmente, essa é a decisão final", afirmou Lior Amihai, um especialista do movimento anticolonização La paix Maintenant ("A Paz Agora" em francês). "Ela será publicada nos próximos dias, e haverá um período de 15 dias para que passe a valer, antes que se possa começar a publicar propostas de ofertas", explicou.
O ministro israelense de Habitação publicou propostas de ofertas para 1.048 novas casas em colônias na Cisjordânia e na Jerusalém Oriental. A comissão de planejamento do distrito de Jerusalém deve se reunir quinta-feira para examinar a construção de 1.100 alojamentos no bairro de Gilo. Segunda-feira (17/12), o Ministério do Interior deu o sinal verde para a construção de 1.500 alojamentos em Ramat Shlomo, também em Jerusalém Oriental, relançando um projeto que já foi condenado por Washington em 2010.
Avalanche de construções
Após essa série de decisões, a ONU pediu a Israel que renuncie a seus projetos de novas implantações na Cisjordânia, reafirmando que essas iniciativas são ilegais e ameaçam o processo de paz com os palestinos. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu que o Estado hebreu "não continue por esse caminho perigoso, que obscurece as perspectivas de diálogo".
Os Estados Unidos também subiram o tom de voz, denunciando os "gestos de provocação", enquanto que os quatro membros europeus do Conselho de Segurança da ONU preparam uma declaração conjunta para condenar os projetos israelenses. "A intensificação da colonização e o conjunto das práticas israelenses de assassinatos e prisões nos move a acelerar nosso recurso na Corte Penal Internacional (CPI)", reagiu o negociador palestino Mohammed Chtayyeh. Tal recurso só foi possível graças ao status de Estado Observador na ONU, obtido pela Palestina em 29 de novembro.
De acordo com o jornal israelense Maariv, que cita altos responsáveis do Likoud, partido do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, "essa avalanche de planos de construção não é somente uma sanção contra o avanço palestino na ONU e a aproximação com o Hamas, mas também um fato ligado diretamente à eleição eleitoral" para as legislativas de janeiro.
"Antes das eleições, é preciso esclarecer suas posições", explicou ao jornal um ministro do Likoud, lembrando que "o eleitorado do Likoud é favorável à construção em Jerusalém e à colonização". "O problema não é só onde se constrói, mas como são anunciadas essas construções. Esse tipo de declaração pode irritar os americanos, que poderão finalmente se virar contra nós, sem que consigamos construir", informou a ex-ministra de Relações Exteriores Tzipi Livni, chefe de um novo movimento centrista de oposição.
"Para manter um Estado judaico e democrático, é necessária uma solução de dois Estados", completou em visita a um conjunto de colônias de Goush Etzion, perto de Jerusalém. Israel considera Jerusalém como sua capital "unificada e indivisível", mas a comunidade internacional não reconhece a anexação em 1967 de Jerusalém Oriental, onde os palestinos querem estabelecer a capital de seu tão sonhado Estado.