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Barack Obama mostra determinação sobre regulamentação das armas de fogo

Agência France-Presse
postado em 19/12/2012 17:51
Washington - O presidente Barack Obama tem demonstrado determinação em avançar na sensível questão da regulamentação das armas de fogo e nomeou nesta quarta-feira seu vice-presidente, Joe Biden, à frente de um grupo de trabalho encarregado de formular propostas após o massacre na escola de Newtown.



Em um discurso na Casa Branca, cinco dias depois da matança em uma escola primária de Connecticut (nordeste), onde foram mortos 20 crianças e seis adultos, Obama disse que apoia o direito dos cidadãos de possuir armas, mas apenas dentro dos limites responsáveis, e que o país tem a "profunda obrigação de conter a violência armada".

"Esta equipe tem uma tarefa muito específica, fazer avançar reformas reais agora", afirmou Obama na Casa Branca. "Eu desejaria que nossas memórias não fossem tão curtas para que (o massacre de) Newtown fosse lembrado por muito tempo, que não deixemos de nos comover apenas um mês depois do ocorrido", declarou.

"Eu apresentarei propostas muito específicas. Falarei sobre elas em meu (discurso do) Estado da União e trabalharei com membros do Congresso que estiverem interessados para tentar conseguir algo", destacou.

Obama deseja, assim, recuperar uma regulamentação contra armas de assalto adotada por Bill Clinton em 1994, mas que foi abolida dez anos depois. Comovido pela tragédia de sexta-feira, pode até tentar ir mais longe.

A nomeação de Joe Biden para liderar um grupo de trabalho é a primeira iniciativa concreta nesse sentido. Este grupo de trabalho deve analisar como regulamentar a venda de fuzis de assalto e de carregadores de alta capacidade. Ele também irá trabalhar em políticas relacionadas à saúde mental e a violência na cultura popular.

"Vamos precisar tornar o serviço de saúde mental tão acessível quanto as armas. Vamos precisar olhar mais de perto uma cultura que, com muita frequência, enaltece armas e violência", afirmou.

Na última sexta-feira, um jovem matou 20 crianças e seis adultos com um rifle de assalto na escola primária de Sandy Hook em Newtown (Connecticut, nordeste).

O presidente, que foi a Newtown no domingo para consolar as famílias das vítimas, se irritou quando perguntado por um jornalista se tinha se abstido de tocar no tema do controle de armas, após os massacres ocorridos em Colorado, Arizona e Texas.

"Eu tenho sido o presidente dos Estados Unidos a lidar com a pior crise econômica desde a Grande Depressão, uma indústria automotiva à beira do colapso, duas guerras. Não acho que tenha tido férias", replicou.

Em resposta aos conservadores que o acusam de querer tirar seu acesso às armas, Obama disse apoiar a Segunda Emenda da Constituição, que protege o direito ao porte de armas nos Estados Unidos. "Há uma enorme lacuna entre, você sabe, o sentido da Segunda Emenda e não ter qualquer regulamentação", afirmou.

Em reação que se seguiu ao massacre, a senadora democrata da Califórnia Dianne Feinstein afirmou que apresentaria ao Congresso uma lei para proibir a venda de armas de assalto, uma iniciativa que Barack Obama, recém-eleito Personalidade do Ano 2012 pela revista Time, "apoia ativamente".

A lei adota as linhas gerais daquela votada em 1994, sob a administração de Bill Clinton, mas que não foi renovada em 2004 pelo republicano George W. Bush.

Este texto possuía vários defeitos, principalmente porque não era retroativo e permitia aos proprietários de armas semi-automáticas mantê-las. Apenas a fabricação e venda de novas armas foram proibidas. Também envolvia um número limitado de modelos. Mas, ainda assim, as associações consideram a lei responsável pela diminuição das mortes por armas de fogo.

"Mudou o país para sempre"

A lista de armas proibidas pela proposta da senadora Feinstein inclui fuzis e pistolas semi-automáticas, enquanto os carregadores com mais de 10 balas também foram proibidos - os de Adam Lanza, o atirador de Newtown, podiam conter muitos mais.

De acordo com este texto, que será apresentado no primeiro dia da próxima sessão do Congresso, em 3 de janeiro, por Feinstein, apenas as novas armas serão alvo da lei. O texto também isenta mais de 900 modelos utilizados para a caça ou fins desportivos, bem como armas antigas e manuais.

No entanto, as chances de aprovação dessa lei depende do apoio de muitos eleitos próximos do poderoso lobby das armas, a ARN, no Congresso, e principalmente os líderes republicanos da Câmara dos Deputados, sem o acordo dos quais nenhum texto pode chegar à câmara.

Assim, as propostas de lei sobre as armas não avançam (foram 10 depositadas em dois anos), e acabam sendo regularmente enterradas.

E o democrata Harry Reid, o homem forte do Senado como o líder da maioria que controla a agenda da instituição, votou contra a renovação da lei sobre as armas de assalto em 2004. Sem ir muito mais longe, desta vez ele prometeu um "debate para ver como alterar as leis".

Famoso por ter conduzido uma campanha de publicidade onde usava uma espingarda, o senador Joe Manchin, por quem a NRA pediu votos, se posicionou em favor da reforma.

"Eu nunca pensei que iria ver tal massacre em minha vida, com 20 bebês", declarou na manhã de terça-feira à rádio NPR. "Ele mudou o país para sempre."

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