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Egito se prepara para 2a. parte de referendo sobre polêmica Constituição

Agência France-Presse
postado em 21/12/2012 14:07
Cairo - O Egito realiza neste sábado a segunda parte do referendo sobre a polêmica Constituição apoiada por islamitas e muito criticada por opositores, com a convocação de novas manifestações, depois de semanas de violência e crise política.

Nesta sexta-feira foram registrados confrontos entre manifestantes islamitas e da oposição em Alexandria, que obrigaram a polícia a usar gás lacrimogêneo, segundo um jornalista da AFP.

Esta cidade, a segunda maior do país, votou no último sábado, na primeira parte da consulta pública, e já havia tido confrontos entre partidários do "sim" e do "não".

A tensão política pode aumentar ainda mais entre o poder, nas mãos da Irmandade Muçulmana, e a oposição laica, que com muita dificuldade se mantém unida, acreditam os analistas egípcios. Cerca de 120 mil solados vão dar apoio à polícia para garantir a segurança nos locais de votação.

No referendo de sábado passado votaram metade dos 51 milhões de eleitores egípcios, incluindo os habitantes das três maiores cidades do Canal de Suez (Port Said, Ismailia e Suez), da cidade turística de Luxor, além do Cairo e Alexandria.



A nova Constituição recebeu o apoio de 57% dos eleitores, segundo resultados ainda não confirmados da apuração da primeira fase, que teve uma participação de cerca de 30%.

Com este resultado, a Constituição está próxima de ser adotada em todo o país, porque a votação deste sábado inclui muitas regiões rurais, em princípio, favoráveis aos islamitas.

No entanto, a frágil vitória do "sim" na última semana e a baixa participação no referendo constitui um fracasso político para o presidente islâmico Mohamed Mursi.

"Tudo indica que o voto será na direção do que quer a Irmandade Muçulmana", considerou Hasan Nafaa, um colunista do jornal independente Al Masry al Yum. Mas a organização islamita "está equivocada, se acredita que isso lhes dá um mandato para continuar no caminho que escolheu para o Egito", acrescentou. A oposição acredita que esta consulta é ilegal por inúmeras fraudes e irregularidades em favor do "sim".

Crise econômica

O referendo também ocorre em um contexto de crise econômica. A incerteza política levou o governo a adiar o pedido de um empréstimo de 4,8 bilhões de dólares do Fundo Monetário Internacional (FMI) e adiar um aumento de impostos planejado para evitar novos protestos.

Em uma mensagem divulgada durante a noite na internet, Mohamed ElBaradei, o líder da Frente de Salvação Nacional (FSN), a principal coalizão de oposição, disse que "o país está à beira da falência".

O ex-chefe da agência nuclear da ONU afirmou que "uma solução ainda é possível", se Mursi aceitar um "diálogo honesto" para rever o projeto de Constituição.

Enquanto isso, Mursi declarou na quinta-feira que o Egito precisa "completar sua transição democrática", desde a queda de Hosni Mubarak, em fevereiro de 2011, segundo um porta-voz do presidente, Yasser Ali.

A oposição acredita que o projeto de Constituição abre a porta a uma islamização das leis e instituições egípcias e que não protege os direitos e liberdades fundamentais.

Já os partidários de Mursi consideram que o texto permitirá o Egito a ter instituições estáveis após a instabilidade provocada pela queda de Mubarak. Em 5 de dezembro, confrontos entre partidários e opositores de Mursi em frente ao palácio presidencial terminaram com oito mortes.

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