Agência France-Presse
postado em 22/12/2012 13:47
Os egípcios votam neste sábado (22/12) na segunda e última fase do referendo sobre o projeto de Constituição defendido pelos islamitas, e que parece próximo de ser adotado, apesar de uma forte campanha da oposição e uma profunda crise política. Sinal da tensão persistente, partidários e opositores do projeto de Constituição entraram em confronto na sexta-feira em Alexandria, a segunda maior cidade do país, deixando dezenas de feridos. Este referendo ocorre em um contexto de grave crise econômica, e as incertezas políticas já provocaram o adiamento de um empréstimo de 4,8 bilhões de dólares do Fundo Monetário Internacional (FMI).Filas se formaram em frente a várias escolas das 17 províncias que votam neste sábado antes mesmo do início da votação, pouco depois das 8h (4h no horário de Brasília). "Eu quero votar ;sim;, porque o Egito precisa de uma Constituição para se tornar estável", declarou à AFP Mohamed Hamza, um motorista de 49 anos, que esperava em frente a um local de voto em Guizé. Não muito longe dali, Sayyed Mustafá, um contador de 25 anos, afirmou o contrário que "com certeza votaria ;não;, porque esta Constituição não respeita os egípcios, ela esquece que no Egito aconteceu uma revolução. Nós merecemos mais".
Como na semana passada, a Comissão Eleitoral anunciou que irá estender a votação em quatro horas, até 23h locais (19h no horário de Brasília), para atender o fluxo de eleitores. Cerca de 51 milhões de egípcios foram convocados para ir às urnas nas duas fases. A Comissão Eleitoral também indicou que anunciará os resultados oficias "dois dias após o final da votação".
De acordo com dados não oficiais, o "sim" venceu com quase 57% dos votos a primeira fase da votação, no sábado passado, o que sugere uma aprovação prévia do projeto de Constituição a nível nacional. A opção de dividir o país em duas zonas de votação foi tomada a fim de evitar o boicote de muitos juízes encarregados de supervisionar a eleição, em conflito com o presidente islâmico Mohamed Mursi, que eles acusam de atentar contra a independência da justiça.
"Risco de uma islamização"
Para a presidência, a adoção de uma nova Constituição traria ao país uma estabilidade institucional, concluindo assim a transição tumultuada que vive o Egito desde a queda do presidente autocrata Hosni Mubarak, em fevereiro de 2011. A oposição, composta por movimentos de esquerda e liberais, considera que o texto abre caminho para a islamização do país e que tem graves lacunas em termos de proteção das liberdades. Ela denuncia numerosas "fraudes e irregularidades" na primeira fase do referendo.
Este referendo foi precedido por várias semanas de protestos que, ocasionalmente, degeneraram em confrontos entre opositores e partidários do presidente Mohamed Mursi e a Irmandade Muçulmana, que defendem a proposta de Constituição. No início de dezembro, oito pessoas foram mortas em confrontos entre pró e anti-Mursi nos arredores do palácio presidencial no Cairo. Sexta-feira, a polícia precisou usar gás lacrimogêneo para dispersar partidários e opositores do projeto em Alexandria.
Se o projeto for aprovado, eleições legislativas estão previstas para substituir a Assembleia dentro de dois meses. Mas de acordo com analistas, a adoção de uma nova Constituição não deve acabar com a crise, já que as divisões são extremamente profundas entre os dois campos sobre a visão da sociedade egípcia na era pós-Mubarak.
Mohamed ElBaradei, chefe da Frente Nacional de Salvação (FNS), a principal coalizão de oposição, considera que "o país está à beira da falência". O mufti do Egito, Ali Gomaa, uma das maiores autoridades muçulmanas do país, convocou, por sua vez, todas as forças políticas a "aceitar os resultados do referendo (...) e colocar o interesse da Egito acima de todas as considerações partidárias ".