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Constituição egípcia é aprovada, mas contestada pela oposição não islâmica

Agência France-Presse
postado em 23/12/2012 11:14
Cairo - Quase dois terços dos eleitores egípcios aprovaram a nova Constituição criticada por seu tom islâmico, segundo resultados de um referendo, precedido por manifestações e contestado pela oposição, que denuncia fraudes.

Os resultados oficiais são esperados para segunda-feira (24/12). Mas a Irmandade Mulçumana do presidente Mohamed Mursi e a imprensa oficial indicaram que 64% dos eleitores aprovaram a Constituição proposta pelos islamitas nas duas fases do referendo, em 15 e 22 de dezembro.

Segundo os islamitas, a taxa de participação foi de 32%.

"O povo egípcio continua a sua marcha para a conclusão da construção de um Estado democrático moderno, após ter virado a página da opressão", festejou em uma declaração o Partido da Liberdade e Justiça (PLJ), o braço político da Irmandade Muçulmana.

As eleições legislativas devem ser realizadas dentro de dois meses após a aprovação da Constituição.

"Nós estendemos as mãos a todos os partidos políticos e todas as forças nacionais para desenhar os contornos do futuro e espero que todos possam começar uma nova página", disse ele em sua conta no Twitter o presidente do PLJ, Saad el-Katatni.

Mas a Frente de Salvação Nacional (FSN), principal coalizão de oposição, anunciou que contesta esses resultados, alcançados, segundo ela, "à fraude, às violações e irregularidades".

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A FSN "irá recorrer do resultado deste referendo" em razão das "fraudes e das violações das regras eleitorais", declarou um dos principais líderes do FSN, Hamdeen Sabbahi. Várias queixas já foram depositadas na justiça.

"Nossa luta é pacífica, queremos derrubar uma Constituição inválida marcada por irregularidades e uma fraca taxa de participação", declarou outro opositor, Amr Hamzawv.

A Frente acrescenta em um comunicado que este referendo "não é o fim do caminho", mas "apenas uma batalha" na luta contra o poder do presidente Mursi.

O movimento de oposição composto principalmente por grupos liberais e de esquerda consideram que o texto da Constituição abre caminho para interpretações rigorosas do Islã e oferece poucas garantias para certas liberdades.

A Frente, que exigia a anulação do referendo, tentou pressionar Mursi com manifestações em massa, antes de lançar uma campanha feroz, mas de última hora, em favor do "não".

A divisão do país em duas zonas de votação foi decidida a fim de lidar com o possível boicote de muitos juízes encarregados de supervisionar a eleição, que estão em conflito com o presidente Mursi, acusado de minar a independência do poder Judiciário.

Os resultados não oficiais são baseados em números fornecidos por mesários. A Comissão Eleitoral deverá anunciar os resultados na segunda-feira, de acordo com o jornal próximo ao governo, Al-Ahram.

Nos Estados Unidos, a republicana Ileana Ros-Lehtinen, presidente do Comitê dos Assuntos Exteriores da Câmara de Representantes, caracterizou a votação como "uma derrota para o povo egípcio".

"Nós não podemos comemorar o fato de se trocar um regime autoritário por uma ditadura islâmica", disse ela em um comunicado antes do anúncio dos resultados.

A imprensa egípcia refletiu neste domingo (23) a divisão do país.

"O Egito se dirige para a estabilidade", foi a manchete do jornal governamental Al-Akhbar, enquanto o independente Al-Masri Al-Yom denunciou as "Violações em massa".

Na véspera da segunda fase do referendo, confrontos irromperam novamente em Alexandria (norte) entre opositores e defensores da Constituição, que resultaram em mais de 60 feridos.

No início de dezembro, oito pessoas morreram e centenas ficaram feridas em confrontos perto do palácio presidencial, no Cairo.

O vice-presidente de Mursi, Mahmoud Mekki, cuja função não é mencionada na nova Constituição, anunciou sua renúncia no sábado, justificando que deixaria o cargo em novembro, mas que foi forçado a adiar devido à crise política.

Sábado à noite (22), a televisão estatal anunciou e, em seguida, desmentiu a demissão, sem dar qualquer razão, do diretor do Banco Central.

Uma vez ratificada a Constituição, o Senado dominado por islamitas recuperará o poder Legislativo até a eleição de uma nova Assembleia. A antiga, onde os islâmicos também eram maioria, foi dissolvida em junho.

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