Agência France-Presse
postado em 25/12/2012 11:22
Cairo - Autoridades egípcias irão divulgar nesta terça-feira os resultados oficiais do referendo sobre o projeto de Constituição, aprovado por dois terços dos eleitores, segundo dados oficiosos, questionados pela oposição. Os resultados serão divulgados em uma entrevista coletiva, prevista para as 15h de Brasília.O ganhador do Nobel da Paz e ex-diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) Mohamed ElBaradei, que dirige a Frente de Salvação Nacional(FSN, principal coalizão da oposição laica), reconheceu que será anunciada a vitória dos defensores do projeto. "Será aprovado, mas, para mim, é um dia muito triste para o Egito, já que a instabilidade será institucionalizada", declarou ao canal de TV americano PBS.
Segundo ElBaradei, a nova Constituição será considerada provisória, até que seja redigida outra, baseada em um consenso. "Até agora, (o presidente egípcio, Mohamed) Mursi não chegou ao restante do país, e precisa fazê-lo, porque é onde está a reserva de gente qualificada que pode fazer a economia arrancar", assinalou.
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A Irmandade Muçulmana, partido de Mursi, e a mídia oficial informaram que 64% dos eleitores aprovaram a Constituição, ao fim das duas fases do referendo, realizadas em 15 e 22 de dezembro. Segundo os islamitas, o índice de participação foi de 32%.
[SAIBAMAIS]A FSN questionou o resultado, alegando que o mesmo se deveu "a fraudes, violações e irregularidades". Para a Frente, o referendo "não representa o fim do caminho, apenas uma batalha" no combate ao poder do presidente Mursi.
Se a declaração for declarada aprovada, o Egito terá que realizar eleições legislativas até o fim de fevereiro.
Há semanas, o projeto de Constituição está no centro da crise mais grave registrada no Egito desde a eleição de Mursi, em junho. A tensão entre partidários e opositores de Mursi terminou, na noite do último dia 5, em confrontos nos arredores do palácio presidencial, que deixaram oito mortos e centenas de feridos.
Segundo a oposição, o texto abre caminho para interpretações severas do islã, e oferece poucas garantias de determinadas liberdades, apesar das aspirações democráticas que surgiram da revolta contra Hosni Mubarak, que dirigiu o Egito por três décadas.
Para os defensores do "sim", a aprovação do texto dotará o país de um marco constitucional estável. Trata-se de um argumento destinado a seduzir os egípcios que estão preocupados, após dois anos de uma transição turbulenta.
A agência de classificação de risco Standard and Poor;s rebaixou ontem em um escalão a nota a longo prazo do país, de "B" para "B-", com perspectiva negativa, devido à tensão política.
No momento em que a instabilidade política é acompanhada de aumento da dívida e queda do turismo, o Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou este mês o congelamento de um pedido do Cairo para obter um empréstimo de 4,8 bilhões de dólares, e a Alemanha, a suspensão do perdão parcial da dívida egípcia.
É previsto que, em contrapartida ao empréstimo do FMI, o Egito aplique medidas de ajuste orçamentário.
O embaixador da União Europeia no Cairo, James Moran, considerou "importante criar confiança. A situação atual é frágil, e, o quanto antes o empréstimo do FMI for concretizado, melhor", comentou.
Antes da primeira fase do referendo, Mursi congelou uma série de aumentos impopulares de impostos sobre produtos como cigarros e refrigerantes.