Agência France-Presse
postado em 26/12/2012 09:17
Damasco - A violência na Síria matou mais de 45 mil pessoas, em 21 meses, sem uma solução à vista, enquanto o enviado internacional Lakhdar Brahimi não teve sucesso em alcançar o apoio da oposição e do regime para seu plano de saída da crise. Nesta quarta-feira (26/12), 20 pessoas foram morreram, entre elas oito crianças, em um bombardeio em Qahtaniyé (norte), informou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).Desde o início da contestação ao regime de Bashar al-Assad, em março de 2011, 45.048 pessoas morreram em meio à violência, incluindo mais de 31.544 civis, informou a ONG. O número de soldados mortos foi de 11.217 e o número de desertores 1.511, acrescentou o OSDH, com sede na Grã-Bretanha, que conta com uma ampla rede de militantes e fontes médicas nos hospitais civis e militares.
Estes números não incluem as milhares de pessoas desaparecidas nas prisões do regime, grande parte dos mortos entre os "shabbihas" (milicianos pró-regime), nem os combatentes estrangeiros, cuja morte é anunciada em seu país de origem. "Além disso, rebeldes e Exército não revelam o número exato de pessoas mortas entre suas fileiras para evitar um golpe para o moral", indicou o presidente do OSDH, Rami Abdel Rahman.
[SAIBAMAIS]No total, o número de mortes pode ultrapassar 100 mil, segundo ele. E depois de quase dois anos, não há nenhuma esperança para uma solução ao conflito. O enviado internacional Lakhdar Brahimi, que participou de reuniões nesta quarta-feira em Damasco, onde deve permanecer até domingo, não conseguiu, até o momento, a aprovação pelo presidente Assad, nem pelos principais grupos de oposição, de um plano de saída da crise.
O diplomata argelino se reuniu em Dublin, em 6 de dezembro, com a chefe da diplomacia americana, Hillary Clinton, e o ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, sobre este plano. De acordo com o jornal francês Le Figaro, existe um acordo entre russos e americanos sobre a formação de um governo de transição, que seria dotado com todos os poderes, e a manutenção de Bashar al-Assad até o fim de seu mandato, em 2014, com a impossibilidade de ele concorrer à reeleição. Este acordo provocou indignação entres as organizações de oposição.
Novos combates em Yarmouk
Mas, de acordo com diplomatas na ONU, não há sinal de disposição para negociar em nome do presidente da Síria, com quem Brahimi se reuniu na segunda-feira. O chefe de Estado se posiciona com uma "jovem guarda", partidária de uma guerra sem uma concessão, de acordo com especialistas.
"O poder está cada vez mais concentrado nas mãos de um punhado de pessoas do clã Assad, um clã cada vez mais autista e que parece ter escolhido a fuga para a frente", explicou Karim Bitar, diretor de pesquisa do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (IRIS), em Paris. Por sua vez, as organizações que combatem no terreno rejeitam "a solução proposta pelo Sr. Brahimi". Os Comitês de Coordenação Locais (CCL), insistem no fato de que "Assad e todo os líderes políticos, militares e da segurança devem deixar o poder".
No terreno, no campo de refugiados palestinos de Yarmouk, em Damasco, violentos confrontos ocorreram nesta quarta-feira entre os combatentes rebeldes e os "comitês populares" pró-regime, quebrando assim o acordo alcançado na semana passada para afastar do campo a guerra civil que abala o país. Além disso, 20 pessoas foram mortas, entre elas oito crianças e três mulheres, e dezenas ficaram feridas no bombardeio da aldeia de Qahtaniyé, segundo o OSDH.
Na província de Hama (centro), o Exército retomou o controle três aldeias alauitas, Ma;an, Zehbe e Talayssié, das mãos dos rebeldes. Na mesma província, um opositor sírio de 50 anos, Faisal Hallak, foi "assassinado" perto de Salmiyé, segundo o OSDH. Ele havia sido preso há 11 anos pelo regime por pertencer ao Partido Operário Comunista.
Combates também foram registrados nos arredores da grande base militar de Wadi Deif, na província de Idleb. "Os confrontos são extremamente violentos, e os islamitas explodiram um trator cheio de explosivos contra o campo", de acordo com ativistas citados pelo Observatório. Na terça-feira, de acordo com a ONG, a violência em todo o país causou a morte de 149 pessoas, incluindo 65 civis.