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Em ambiente tenso, vítima de estupro foi cremada na Índia



O primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, e a presidente do governista Partido do Congresso, Sonia Ganghi, compareceram ao aeroporto de Nova Délhi para receber o caixão e oferecer condolências à família da vítima.

A polícia, que já havia bloqueado pontos estratégicos da cidade para evitar manifestações públicas, também isolou o bairro onde a jovem morava, impedindo o acesso da imprensa e de curiosos.

Uma vizinha da família, que se identificou como Meena Rai, disse à AFP que decidiu comparecer ao funeral porque "realmente amava a jovem".

"Era a mais brilhante de todas as jovens de nosso bairro", completou.

De acordo com Rai, a jovem "havia feito todos os preparativos para seu casamento e planejava uma festa em Nova Délhi". Outra vizinha, Usha Rai, disse que todos sabiam que ela pretendia casar em fevereiro.

Ao mesmo tempo, milhares de pessoas participavam em diverso pontos da cidade de vigílias e cerimônias improvisadas, em homenagem à vítima que o país agora chama de "Filha da Índia". Também foram registradas manifestações em Calcutá, Mumbai e Hyderabad.

A jovem, que não teve a identidade revelada, foi agredida de maneira selvagem e estuprada no dia 16 de dezembro por seis homens em um ônibus em Nova Délhi.

Ela foi atingida por uma barra de ferro e jogada do veículo em movimento.

Os seis acusados foram detidos e devem ser acusados de assassinato, um crime que pode ser punido com a pena de morte na Índia.

Os estupros coletivos acontecem quase todos os dias na Índia e muitos não são denunciados pelas vítimas, que não confiam no sistema judiciário e temem a reação dos policiais.

Mas a natureza particularmente selvagem deste ataque provocou a revolta da população e levou o governo a prometer mais segurança para as mulheres, além de penas mais severas para os crimes sexuais.

"Vemos a comoção que este incidente tem provocado. São reações perfeitamente compreensíveis de um país que realmente deseja mudança", afirmou Singh em um comunicado.

"Como mulher e mãe, entendo a dor. Sua luta não será em vão", disse Sonia Gandhi, líder do governante Partido do Congresso.

A polícia tem sido muito criticada por suas táticas para sufocar os protestos, que incluíram o uso de gás lacrimogêneo e jatos de água.

Neeraj Kumar, chefe de polícia de Nova Délhi, pediu calma à população da capital e anunciou o fechamento da área do monumento Porta da Índia e de 10 estações de metrô.

O governo também tenta se defender das acusações de que a vítima foi transferida para um hospital de Cingapura para impedir que morresse em território indiano, o que aumentaria a tensão.

T.C.A. Raghavan, diplomata indiano em Cingapura, afirmou que a decisão foi tomada apenas por motivos médicos depois de consultas entre a equipe médica que a atendeu em Délhi e especialistas de Cingapura.

O enviado também comentou a experiência terrível da família da vítima, natural de uma zona rural de Uttar Pradesh.

"Suportaram a perda com muita honra, força e compreensão", disse Raghavan.

"Me pediram em várias ocasiões para que contasse que estão agradecidos com as muitas mensagens de apoio e com as condolências recebidas. Isto reforça neles a ideia de que a morte da filha resultará em um futuro melhor para todas as mulheres na Índia e em Nova Délhi", completou.