Renata Tranches
postado em 03/01/2013 07:48
Quase 10 anos em uma luta herdada da filha, Cindy e Craig Corrie dividem sua vida entre a busca por justiça aos responsáveis pela morte de Rachel e a continuidade da batalha da americana, morta aos 23 anos em Gaza ao tentar impedir militares israelenses de demolir casas no território palestino. De passagem por Brasília para visitar o amigo Gustavo Ramos, que morou com a família em 1993 durante um intercâmbio nos Estados Unidos, o casal falou com exclusividade ao Correio sobre a vida desde a perda da filha e como se esforça para mostrar ao mundo o motivo de sua luta. ;Ela nos deixou essa grande oportunidade e temos sido acolhidos por tantas pessoas no mundo por conta de sua história;, afirma Cindy, em voz terna.
A atenção dos Corries se volta atualmente à ação civil que movem contra o governo e o Exército de Israel. Neste mês, o advogado da família deve apelar da decisão emitida em agosto pela Corte Distrital de Haifa, que isentou as autoridades e declarou que a única responsável pela morte foi a própria vítima. Ao mesmo tempo, dividem com a Fundação Rachel Corrie os preparativos para o aniversário de 10 anos do incidente, em 16 de março, que transformou a jovem em um dos símbolos da resistência pacífica à ocupação na Faixa de Gaza. Rachel foi atropelada por uma escavadeira, conduzida por um militar israelense, ao tentar impedir a demolição de casas em Rafaf. Seu nome batizou uma das embarcações que integrava a Flotilha da Liberdade, interceptada pela Marinha israelense em 2010 ao tentar furar o cerco a Gaza com ajuda humanitária.
Antes de perder a filha, em 2003, o conhecimento de Cindy e Craig sobre a situação entre palestinos e israelenses não ia além do usual. Mas o envolvimento da filha levou os pais a buscarem cada vez mais informações. Craig lembra que o interesse de Rachel veio com os ataques de 11 de setembro. ;Ela começou a estudar por que alguém atacaria os EUA e a buscar respostas mais sofisticadas, o que a levou à questão entre palestinos e israelenses;, relatou. O engajamento dela veio com os amigos que trabalhavam com o Movimento Solidariedade Internacional. Rachel decidiu acompanhar o grupo à Gaza em 2003. Os ativistas temiam pelos territórios com a explosão da guerra no Iraque. Antes, porém, ela aprendeu a falar árabe. ;Ela era muito boa com o árabe;, lembra mãe. ;Ela era muito boa com línguas;, emendou longo em seguida um orgulhoso pai.